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Após tiroteio, corpo fica por 5 horas em supermercado aberto
Vigia José Ramos da Silva foi morto em tentativa de assalto a uma agência do Bradesco em um Carrefour do Morumbi
Local foi reaberto 1 h após o crime, com lona escondendo o corpo; segundo empresa, decisão foi tomada porque área já havia sido isolada
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O corpo de um vigia morto
ontem às 9h42, após trocar tiros com uma quadrilha de assaltantes em uma agência do
Bradesco no hipermercado
Carrefour, no Morumbi, bairro
nobre da zona oeste, demorou 5
horas e 20 minutos para ser recolhido pelo IML.
Uma hora depois do crime, o
supermercado da avenida Alberto Augusto Alves decidiu
reabrir suas portas e voltou a
funcionar normalmente -apenas pendurou lonas pretas no
teto formando um semicírculo
para esconder dos clientes o
corpo de José Ramos da Silva,
35, o vigia assassinado.
Silva e mais três vigias da
Transbank Segurança e Transporte de Valores Ltda. tinham
ido ao banco abastecer os caixas eletrônicos com dinheiro
em malotes quando três outros
homens, bem vestidos, entraram ostentando fuzis e pistolas
no supermercado -que tem segurança privada, mas desarmada durante o dia- e anunciaram o assalto.
Houve troca de tiros entre os
vigilantes e os criminosos, que
se confundiram e fugiram com
um malote de correspondências em vez de dinheiro. Até a
conclusão desta edição, não haviam sido presos.
"Só ouvimos o ratá-tá-tá", diz
uma funcionária do supermercado, que se identificou como
Érica, sobre o som dos tiros.
O barulho provocou pânico e
correria entre as cerca de 150
pessoas que estavam no local,
entre funcionários e clientes.
Ninguém se feriu, mas marcas
dos disparos ficaram nas paredes e até no teto.
"Teve gente desesperada se
deitando no chão, outras descendo esteiras rolantes. Me escondi", disse Carol Santana, 19,
funcionária de uma galeria do
supermercado. Alguns empregados dos caixas, abalados, não
quiseram trabalhar depois.
Para tentar se proteger, Silva
usou um revólver calibre 38 e
um colete à prova de balas.
Morreu atrás dos caixas com
um disparo de fuzil no tórax.
Seu colega, Samuel Rodrigues Neto, 34, foi ferido no ombro, não corre risco de morte, e
foi operado. Outro vigia escapou sem ferimentos. Também
saiu ileso o vigia que estava no
carro-forte no estacionamento.
Um dos assaltantes foi atingido pelos vigilantes, mas mesmo
ferido fugiu com os dois comparsas e um outro que aguardava fora para dar cobertura à fuga. Eles fugiram em uma moto
e dois carros -abandonados e
depois encontrados em favelas.
Sem saber que o corpo de Silva continuava estendido e escondido, clientes iam às compras no Carrefour -ouvindo
músicas que tocavam na sessão
de eletrônicos.
Isolado
Procurado pela Folha para
comentar o assunto, o assessor
de imprensa do Carrefour, Edson Difonzo, justificou o funcionamento do supermercado
alegando que os clientes não
estavam vendo o vigia morto.
"Sem problemas. O local está
isolado", disse Difonzo.
A Transbank declarou, por
meio de nota, que, apesar de
possuir "um sistema de segurança de altíssimo nível", também está sujeita a "ações como
essas, em função da organização e da ousadia dos criminosos no Brasil".
O Carrefour se eximiu de
responsabilidade: "os fatos
ocorreram dentro da agência
do Bradesco, situada na galeria
da loja do Carrefour". Já o banco afirma que "todos os procedimentos de segurança foram
adotados".
Policiais ouvidos pela reportagem reconheceram que o
corpo de Silva demorou para
ser recolhido. Mas culparam o
trânsito da cidade, que teria gerado um efeito cascata de atrasos das equipes de peritos do
IC (Instituto de Criminalística), investigadores da Polícia
Civil e peritos do Instituto Médico Legal.
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