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Grupos educacionais lançam ações na Bolsa e crescem 67%
Expansão no total de alunos de 4 instituições foi acelerada devido à alta nas receitas
Um dos grupos, o SEB, teve crescimento de 282% no número de estudantes; analista alerta para cuidado com qualidade do ensino
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Um ano após terem decidido
oferecer ações na Bolsa de Valores, os quatro grandes grupos
educacionais com essa estratégia cresceram 67% em número
de alunos no ensino superior ao
adquirir pequenas e médias
instituições em todo o Brasil.
De acordo com o último censo do MEC, a média do crescimento no número de alunos do
setor particular no país foi de
10%, entre 2005 e 2006.
Essa expansão acelerada foi
possível graças ao aumento das
receitas desses grupos (somadas, ultrapassaram R$ 700 milhões no segundo trimestre
deste ano) e envolve até negociações no exterior.
A Estácio de Sá, do Rio, concluiu neste mês a compra da
Universidad de La Integración
de Las Americas, do Paraguai,
pelo valor de R$ 2,3 milhões. O
grupo planeja também se expandir para o Uruguai.
Já a Anhanguera, de São Paulo, chama a atenção pelo crescimento em número de alunos.
Primeira a abrir capital, em
apenas um ano, passou de 48
mil para 141 mil estudantes.
Completam a lista o Kroton,
de Minas, e o SEB, de São Paulo.
Analistas dizem, porém, que
outros irão por esse caminho.
Eduardo Nishio, analista do
banco UBS Pactual, lembra
que essa mesma tendência
aconteceu no setor de construção: "Quando as primeiras
foram bem-sucedidas, outras
seguiram o mesmo exemplo
com medo de serem engolidas.
Acho que acontecerá o mesmo
com a educação".
"Vamos ter, em dois ou três
anos, uns 15 grupos educacionais de capital aberto. Muitas,
porém, terão que passar por
um choque de gestão", afirma o
consultor em educação Carlos
Antonio Monteiro.
A mudança de um modelo
muitas vezes familiar e filantrópico para outro com objetivos lucrativos e tendo que prestar contas ao mercado foi sentida na Estácio após a entrada da
GP investimentos -maior fundo de participações em empresas do Brasil.
A GP passou a exercer em
maio o controle compartilhado
da Estácio com a família de
João Uchôa Cavalcanti, fundador da universidade. Em seguida, o reitor da Estácio, Gilberto
Castro, foi afastado do cargo
que ocupava havia 11 anos.
Acostumados antes a lidar
apenas com a gestão educacional, as empresas passaram
também a sofrer com as oscilações do mercado.
Na semana passada, por
exemplo, o valor das ações do
grupo Kroton teve queda de
20% depois de o banco Morgan
Stanley ter colocado em dúvida
a contabilidade dos resultados.
A empresa divulgou uma nota
negando qualquer tipo de irregularidade em seu balanço.
Um acompanhamento feito
pela CM Consultoria, de Carlos
Monteiro, aponta que o valor
das ações desses grupos pode
oscilar bastante. Desde o dia da
oferta inicial até o fechamento
do mercado na semana passada, somente o grupo Anhanguera registrava valorização de
suas ações, de 56%.
No caso da Estácio, o valor da
ação na semana passada era
10% menor que o da oferta inicial, enquanto Kroton (-49%) e
SEB (-50%) apresentavam as
maiores reduções.
Qualidade
O resultado dos grupos educacionais com ações em Bolsa
em suas instituições de origem
são próximos da média dos cursos avaliados pelo MEC de
2005 a 2007.
Levantamento feito pela Folha com base no Enade (avaliação do MEC) mostra que, numa
escala de 1 a 5, os resultados
desses grupos variaram de 3,0 a
3,4. A média de todos os cursos
do Brasil é 3,0.
Na opinião de Maria Cristina
Gramani, professora do Ibmec-SP que fez um estudo sobre
a influência da qualidade na
atratividade de instituições
de ensino com capital aberto,
é fundamental que os investidores analisem também a
qualidade.
"Não sou contra a abertura
de capital e acho que isso pode
resultar numa melhoria do ensino. Mas é preciso considerar
também indicadores de qualidade. Avaliações ruins podem
resultar no fechamento de cursos e na perda de estudantes",
afirma ela.
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