São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Grupos educacionais lançam ações na Bolsa e crescem 67%

Expansão no total de alunos de 4 instituições foi acelerada devido à alta nas receitas

Um dos grupos, o SEB, teve crescimento de 282% no número de estudantes; analista alerta para cuidado com qualidade do ensino

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Um ano após terem decidido oferecer ações na Bolsa de Valores, os quatro grandes grupos educacionais com essa estratégia cresceram 67% em número de alunos no ensino superior ao adquirir pequenas e médias instituições em todo o Brasil.
De acordo com o último censo do MEC, a média do crescimento no número de alunos do setor particular no país foi de 10%, entre 2005 e 2006.
Essa expansão acelerada foi possível graças ao aumento das receitas desses grupos (somadas, ultrapassaram R$ 700 milhões no segundo trimestre deste ano) e envolve até negociações no exterior.
A Estácio de Sá, do Rio, concluiu neste mês a compra da Universidad de La Integración de Las Americas, do Paraguai, pelo valor de R$ 2,3 milhões. O grupo planeja também se expandir para o Uruguai.
Já a Anhanguera, de São Paulo, chama a atenção pelo crescimento em número de alunos. Primeira a abrir capital, em apenas um ano, passou de 48 mil para 141 mil estudantes.
Completam a lista o Kroton, de Minas, e o SEB, de São Paulo. Analistas dizem, porém, que outros irão por esse caminho.
Eduardo Nishio, analista do banco UBS Pactual, lembra que essa mesma tendência aconteceu no setor de construção: "Quando as primeiras foram bem-sucedidas, outras seguiram o mesmo exemplo com medo de serem engolidas. Acho que acontecerá o mesmo com a educação".
"Vamos ter, em dois ou três anos, uns 15 grupos educacionais de capital aberto. Muitas, porém, terão que passar por um choque de gestão", afirma o consultor em educação Carlos Antonio Monteiro.
A mudança de um modelo muitas vezes familiar e filantrópico para outro com objetivos lucrativos e tendo que prestar contas ao mercado foi sentida na Estácio após a entrada da GP investimentos -maior fundo de participações em empresas do Brasil.
A GP passou a exercer em maio o controle compartilhado da Estácio com a família de João Uchôa Cavalcanti, fundador da universidade. Em seguida, o reitor da Estácio, Gilberto Castro, foi afastado do cargo que ocupava havia 11 anos.
Acostumados antes a lidar apenas com a gestão educacional, as empresas passaram também a sofrer com as oscilações do mercado.
Na semana passada, por exemplo, o valor das ações do grupo Kroton teve queda de 20% depois de o banco Morgan Stanley ter colocado em dúvida a contabilidade dos resultados. A empresa divulgou uma nota negando qualquer tipo de irregularidade em seu balanço.
Um acompanhamento feito pela CM Consultoria, de Carlos Monteiro, aponta que o valor das ações desses grupos pode oscilar bastante. Desde o dia da oferta inicial até o fechamento do mercado na semana passada, somente o grupo Anhanguera registrava valorização de suas ações, de 56%.
No caso da Estácio, o valor da ação na semana passada era 10% menor que o da oferta inicial, enquanto Kroton (-49%) e SEB (-50%) apresentavam as maiores reduções.

Qualidade
O resultado dos grupos educacionais com ações em Bolsa em suas instituições de origem são próximos da média dos cursos avaliados pelo MEC de 2005 a 2007.
Levantamento feito pela Folha com base no Enade (avaliação do MEC) mostra que, numa escala de 1 a 5, os resultados desses grupos variaram de 3,0 a 3,4. A média de todos os cursos do Brasil é 3,0.
Na opinião de Maria Cristina Gramani, professora do Ibmec-SP que fez um estudo sobre a influência da qualidade na atratividade de instituições de ensino com capital aberto, é fundamental que os investidores analisem também a qualidade.
"Não sou contra a abertura de capital e acho que isso pode resultar numa melhoria do ensino. Mas é preciso considerar também indicadores de qualidade. Avaliações ruins podem resultar no fechamento de cursos e na perda de estudantes", afirma ela.


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