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Trânsito precisaria de uma Paulista nova por semana
Especialistas dizem que medidas duras de restrição ao automóvel são inevitáveis
Nem Rodoanel nem expansão do metrô seriam capazes de conter cerco ao uso de carros na capital paulista, avaliam técnicos
ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
A vida de quem se desloca de
carro na cidade de São Paulo vai
se tornar cada vez mais difícil
ou, no mínimo, mais cara.
Será uma conseqüência inevitável às medidas de restrição
ao uso do automóvel que a prefeitura deverá adotar nos próximos quatro anos, independentemente do partido político
que estiver no comando, conforme apostam especialistas.
Alguns avaliam que a impopularidade de ações prejudiciais ao transporte individual
deve ser no curto prazo até inferior ao desgaste motivado pela deterioração do trânsito.
O cenário foi traçado por técnicos entrevistados pela Folha
para falar de tendências diante
do crescimento da frota da capital paulista, que, no saldo
deste ano, já recebe mais de
1.300 veículos diariamente.
Para amortizar os impactos
seria necessário construir uma
avenida como a Paulista por semana na cidade -medida obviamente inviável.
A maioria dos técnicos considera que não há Rodoanel, limitação ao transporte de carga,
expansão da rede do metrô ou
modernização de semáforos
capaz de reverter a tendência
de restrição ao carro, ainda que
possa postergá-la.
Se por um lado é quase consensual a opinião de que a vida
de quem anda de carro deve ser
dificultada, por outro há divergências sobre de que forma.
Há quem acredite que, assim
como Londres, São Paulo vai
aderir ao pedágio urbano. Outros apostam na restrição ao
estacionamento em via pública, politica já iniciada na gestão
Gilberto Kassab (DEM) e que
encarece a garagem privada.
Alguns avaliam que a restrição ao transporte individual
será somente física, com a priorização dos coletivos. Ou seja,
com mais corredores de ônibus, carros perderão espaço.
A construção de mais linhas
de metrô, promessa dos principais candidatos a prefeito, está
longe de ser considerada suficiente para contornar a piora
do trânsito. Primeiro pela demora das obras. Segundo, pois
não haverá metrô na porta da
casa de todo mundo. Terceiro
porque não é suficiente para levar a maioria a deixar o carro
na garagem, dizem analistas.
Fama de vilão
Jaime Waisman, professor
da USP, cita uma previsão que
leu recentemente: a imagem do
automóvel na próxima década
poderá piorar assim como
ocorreu com a do cigarro. Ganhar fama de vilão, em razão do
trânsito e da poluição.
"Tirar espaço do carro é tendência internacional. As pessoas já estão mais dispostas a
aceitar restrições. Mas não para pagar mais", diz Waisman,
que, no curto prazo, defende
restrição de estacionamento e
ampliação dos corredores.
"O pedágio precisa ser tratado com mais cuidado por aqui,
pois esbarra na falta de transporte público", afirma.
O consultor Flamínio Fichmann aposta numa perspectiva
mais radical, a do pedágio urbano, sob risco até de a piora do
trânsito resultar em mais impopularidade do que a decisão
pela cobrança. "Quem não fizer
poderá pagar um preço maior.
O problema do congestionamento já passou do ponto, está
muito além do razoável."
"Apesar de a via ser pública,
ela é apropriada de forma individual. Quem usa carro tende a
se deslocar mais. E quem usa
mais tem que pagar mais, como
é com um telefone", defende
Vernon Kohl, também favorável ao pedágio urbano, embora
acredite que a medida seja "coisa para quatro, cinco anos".
Até lá, avalia Kohl, as viagens
de automóvel devem ser reprogramadas, "mas sempre em níveis cada vez mais desconfortáveis". "A cidade não vai parar,
mas vai ficar cada vez pior."
O especialista Bernardo Alvim aposta em "medidas radicais em favor do transporte coletivo". "Por que há tanto espaço de estacionamento reservado ao automóvel e não tanto ao
ônibus? O paradigma não pode
estar no transporte individual."
Um estudo do começo da década em algumas capitais brasileiras mostrou que os carros,
proporcionalmente ao número
de usuários transportados,
ocupavam as vias oito vezes
mais do que os ônibus.
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