São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morre menina infectada em transfusão

RODRIGO ROSSI
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

A menina I.C.N.S., 11, que foi contaminada pelo vírus da Aids no início do ano depois de uma transfusão de sangue no Hemocentro de Ribeirão, morreu na noite de anteontem por complicações no quadro de sua doença.
A mãe da menina, I.N., disse ontem que moverá uma ação indenizatória contra o HC (Hospital das Clínicas) e contra o Estado. O valor ainda não foi definido. O advogado da família, Hélio Aparecido de Fazzio, disse que vai requisitar a cópia do prontuário médico para dar entrada no processo.
A menina estava internada no HC de Ribeirão há seis meses. Segundo a mãe, o quadro clínico da filha, que antes de contrair o HIV era portadora de paralisa cerebral, piorou depois da contaminação. "Minha filha estava melhorando. Eu a levava comigo para o trabalho, mas, depois que foi contaminada, precisou ficar internada e minha dedicação a ela passou a ser exclusiva."
O atestado de óbito de I.C.N.S. aponta que ela morreu de falência múltipla dos órgãos, choque séptico, imunodeficiência secundária, pneumonia, insuficiência renal e edema pulmonar agudo.
O HC, por meio de sua assessoria de imprensa, descartou a ligação da morte da menina com a manifestação do vírus HIV. O hospital afirma que a paciente morreu em decorrência de uma infecção generalizada. A mãe diz acreditar que o HIV acelerou a morte da filha.
A contaminação de I.C.N.S. foi confirmada pela direção do Hemocentro em julho. A mãe, que trouxe a filha do Maranhão para que ela recebesse um tratamento que melhorasse o funcionamento de seus intestinos, disse que a menina passou por nove cirurgias. Em uma dessas operações ocorreu a transfusão.
O médico Luiz Paulo Faggioni, do Hemocentro de Ribeirão, disse que não há como apontar responsáveis pela contaminação da menina quando se trata de um procedimento que apresenta um risco residual permanente, como é o caso da transfusão.
"Ainda não recebemos nenhum comunicado, mas o que podemos fazer é prestar os esclarecimentos à Justiça sobre os riscos, além de estar presente em momentos difíceis como esse", disse.
Faggioni afirma que os riscos, em Ribeirão Preto, de uma transfusão acarretar a contaminação do paciente ocorre numa proporção de um caso para 300 mil transfusões. Desde de 1998 o Hemocentro da cidade realizou 320 mil transfusões.
A mãe da menina afirmou que doará a indenização a uma instituição que cuida de crianças vítimas de doenças graves, caso a Justiça decida responsabilizar o Estado pela morte. Ela também descartou a possibilidade de retornar logo para o Maranhão. "Não deixarei esta cidade [Ribeirão" antes de ver justiça", declarou.


Texto Anterior: Um em cada dez médicos trata o assunto
Próximo Texto: Urbanidade - Gilberto Dimenstein: Salvos pela mágica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.