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Matemática é último reduto masculino
Pesquisa mostra que meninas ultrapassaram meninos em quase todos os indicadores educacionais, exceto nessa disciplina
Distância a favor dos meninos no Brasil na área é a maior do mundo quando comparada com 41 países em exame internacional
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
VINICIUS ABBATE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não há área de ensino no
Brasil em que as meninas não
estejam dominando -ou muito
próximas disso. Elas são maioria no ensino superior, têm taxas de evasão e reprovação menores no ensino médio e se
saem melhor do que os meninos em quase todos os testes
que avaliam aprendizado no
ensino fundamental. Mas um
setor resiste a essa supremacia:
o aprendizado de matemática.
Esse quadro não é exclusivo
do Brasil. Dos 42 países avaliados no Pisa (exame da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico
que analisa o desempenho de
alunos), os meninos foram melhor em matemática em 33.
Em alguns casos, a diferença
não é estatisticamente significativa, mas, em 12 deles, não há
dúvidas de que as meninas estão aprendendo menos. Já nos
oito casos em que a diferença é
a favor das meninas, em um deles, a Albânia, ela é significativa.
O Brasil aparece com destaque na tabela comparativa em
matemática porque aqui a diferença a favor dos meninos é a
maior entre todos os países
analisados, ao lado de Áustria e
Coréia do Sul. Esse melhor desempenho masculino, no entanto, não se repete em todas as
áreas. Pelo contrário, em testes
de leitura, a situação se inverte
e a supremacia feminina é incontestável em todos os países.
Razões
Foi esse quadro que instigou
os pesquisadores Márcia Andrade, Creso Franco e João Pitombeira de Carvalho, da PUC-RJ, a buscar razões que nos levam a ter uma das maiores diferenças do mundo em matemática. O trabalho foi apresentado
no 15º Encontro Nacional de
Estudos Populacionais, que
aconteceu na semana passada
em Caxambu (MG).
Estudos sobre essas diferenças têm gerado debates, principalmente quando se discute se
essas diferenças são fruto de aspectos culturais ou biológicos.
O estudo da PUC quis verificar se variáveis socioeconômicas ou do ambiente escolar explicavam o resultado. Eles trabalharam com dados do Saeb
(exame que avalia a qualidade)
no último ano do ensino médio.
Como o Pisa, ele mostra significativas diferenças a favor dos
meninos em matemática.
A primeira hipótese era se o
melhor desempenho não era
causado pelo fato de muitos dos
meninos mais pobres abandonarem a escola antes de completar o ensino médio, algo menos intenso entre meninas.
Isso se justifica porque o que
mais interfere no desempenho
escolar é o nível socioeconômico. Se há menos garotos pobres
que concluem o ensino médio,
espera-se que, quando é feito
um exame entre os que chegaram lá, a nota média aumente
por haver menos alunos em
condições desfavoráveis, que
puxariam a média para baixo.
Para evitar que isso influenciasse no resultado, a pesquisa
só comparou estudantes de
mesmo nível socioeconômico e
que estavam na mesma escola.
Os dados mostraram que a distância entre eles e elas diminuiu, mas, ainda assim, meninos se saíam melhor.
Iguais
O segundo passo foi separar
escolas que atendem crianças
de baixo poder aquisitivo das
onde os alunos têm nível socioeconômico mais alto. A partir daí, constatou-se que, nas
escolas onde estudam os mais
pobres, a diferença persistia.
No entanto, nas escolas para
alunos de renda mais alta, a diferença se torna desprezível,
com meninos e meninas tendo
quase o mesmo desempenho.
Uma hipótese é que, nesse
ambiente, as famílias apóiem e
aceitem mais o interesse de
meninas pela matemática.
"Freqüentemente estão em
condições materiais e ideológicas mais favoráveis para o rompimento de papéis tradicionais
em relação a gênero", afirmam.
O estudo aponta também que
o professor pode ser fundamental para reverter esse quadro. Em escolas onde havia
mais cobrança de deveres de
casa, a diferença diminuía.
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