|
Próximo Texto | Índice
Após punição a colega, 16 delegados entregam cargos
Destituição de seccional de Barretos, por conta da greve, motivou ato
Entre os policiais, 7 dirigem delegacias em Barretos, 2 são auxiliares e 7 atuam em cidades da região; Secretaria da Segurança minimizou ato
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO, EM BARRETOS
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os 16 delegados em atividade na área da Delegacia
Seccional de Barretos, interior
de São Paulo, entregaram ontem seus cargos após o governo
José Serra (PSDB) ter destituído o chefe da unidade, João
Osinski Junior, em razão da
greve de policiais civis -iniciada no último dia 16.
Além de colocarem os cargos
à disposição, delegados e outros policiais civis de Barretos
-com fitas pretas presas à boca- caminharam até o fórum
de Barretos para protocolar
uma denúncia contra nove oficiais da Polícia Militar por
usurpação do cargo de policial
civil -os PMs, por orientação
do governo, estão agindo como
investigadores e solicitando
trabalhos de perícia técnica.
"Não admitimos essa decisão
[a punição a Osinski]. Mostra
que o governo está preocupado
com política, e não com a melhora da Polícia Civil. Isso é
apagar fogo com gasolina", disse o representante da Adpesp
(associação dos delegados) na
região, Antônio Alício Simões.
Entre os que colocaram os
cargos à disposição ontem, sete
dirigem delegacias de Barretos,
entre elas a de defesa da mulher, dois são auxiliares do seccional e os outros são delegados
em sete cidades da região.
A gestão José Serra (PSDB)
evitou comentar a decisão dos
delegados. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse:
"Se eles quisessem mesmo isso
[entregar o cargo], teriam aberto requerimentos para transferência ou exoneração".
Nos bastidores do governo,
porém, o ato dos delegados foi
considerado um "factóide",
tanto que, caso outros delegados em cargos de confiança
apóiem grevistas, também correm o risco de punição. A medida afetaria principalmente os
delegados do interior, onde a
adesão à greve é maior.
Antes de Osinski, o governo
já havia punido o presidente da
Adpesp, Sérgio Roque, transferido do setor de inteligência da
polícia. Com a saída de Roque
à sua revelia, o diretor do Dipol
(departamento de inteligência), Domingos Paulo Neto, deixou o cargo.
O advogado Eduardo Nobre,
especialista em legislação eleitoral, diz que a lei não impede
que o governo troque ou remova os delegados. A lei eleitoral
impede transferências e remoções de funcionários públicos
três meses antes e depois do
pleito, para evitar pressões do
Estado, mas não se aplica a policiais civis e militares e a agentes penitenciários, desde que
justificado o interesse público.
Osinski disse não saber por
que foi afastado -afirmou ter
ficado surpreso. Ele não quis
comentar se havia relação entre a destituição e a greve.
"Só acho que foi um preço alto demais a pagar por defender
uma instituição, uma classe",
disse o ex-seccional. "Mas não
vou me insurgir contra meus
superiores. Estou em paz."
Próximo Texto: Líder do governo diz temer que a greve continue Índice
|