São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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Após punição a colega, 16 delegados entregam cargos

Destituição de seccional de Barretos, por conta da greve, motivou ato

Entre os policiais, 7 dirigem delegacias em Barretos, 2 são auxiliares e 7 atuam em cidades da região; Secretaria da Segurança minimizou ato

ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO, EM BARRETOS
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os 16 delegados em atividade na área da Delegacia Seccional de Barretos, interior de São Paulo, entregaram ontem seus cargos após o governo José Serra (PSDB) ter destituído o chefe da unidade, João Osinski Junior, em razão da greve de policiais civis -iniciada no último dia 16.
Além de colocarem os cargos à disposição, delegados e outros policiais civis de Barretos -com fitas pretas presas à boca- caminharam até o fórum de Barretos para protocolar uma denúncia contra nove oficiais da Polícia Militar por usurpação do cargo de policial civil -os PMs, por orientação do governo, estão agindo como investigadores e solicitando trabalhos de perícia técnica.
"Não admitimos essa decisão [a punição a Osinski]. Mostra que o governo está preocupado com política, e não com a melhora da Polícia Civil. Isso é apagar fogo com gasolina", disse o representante da Adpesp (associação dos delegados) na região, Antônio Alício Simões.
Entre os que colocaram os cargos à disposição ontem, sete dirigem delegacias de Barretos, entre elas a de defesa da mulher, dois são auxiliares do seccional e os outros são delegados em sete cidades da região.
A gestão José Serra (PSDB) evitou comentar a decisão dos delegados. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse: "Se eles quisessem mesmo isso [entregar o cargo], teriam aberto requerimentos para transferência ou exoneração".
Nos bastidores do governo, porém, o ato dos delegados foi considerado um "factóide", tanto que, caso outros delegados em cargos de confiança apóiem grevistas, também correm o risco de punição. A medida afetaria principalmente os delegados do interior, onde a adesão à greve é maior.
Antes de Osinski, o governo já havia punido o presidente da Adpesp, Sérgio Roque, transferido do setor de inteligência da polícia. Com a saída de Roque à sua revelia, o diretor do Dipol (departamento de inteligência), Domingos Paulo Neto, deixou o cargo.
O advogado Eduardo Nobre, especialista em legislação eleitoral, diz que a lei não impede que o governo troque ou remova os delegados. A lei eleitoral impede transferências e remoções de funcionários públicos três meses antes e depois do pleito, para evitar pressões do Estado, mas não se aplica a policiais civis e militares e a agentes penitenciários, desde que justificado o interesse público.
Osinski disse não saber por que foi afastado -afirmou ter ficado surpreso. Ele não quis comentar se havia relação entre a destituição e a greve.
"Só acho que foi um preço alto demais a pagar por defender uma instituição, uma classe", disse o ex-seccional. "Mas não vou me insurgir contra meus superiores. Estou em paz."


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