São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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Vítima passa 3 h em cativeiro e ouve "não" em 2 delegacias

Só na 3ª tentativa o motorista conseguiu registrar o assalto em que perdeu a carga

Presidente da associação dos delegados afirma que é caso isolado e que a orientação é registrar casos graves, como roubos

BRUNA SANIELE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um motorista de 47 anos foi rendido por três assaltantes ontem, na avenida M'Boi Mirim (zona sul de SP). Após ser levado a um cativeiro, onde foi ameaçado por cerca de três horas, e de ter perdido a carga que transportava, Dalmir da Silva Filho enfrentou outro drama: teve de percorrer três delegacias para conseguir registrar um boletim de ocorrência.
O motorista, que ficou em cativeiro das 6h20 até as 9h40, passou pelo 37º DP (Campo Limpo) e pelo 47º DP (Capão Redondo). No primeiro, ele foi informado de que os policiais estavam em greve e orientado a seguir para o segundo.
Os plantonistas do 47º também não fizeram o BO e sugeriram que Dalmir se dirigisse ao 100º DP (Jardim Herculano).
Só então o crime foi registrado.
À Folha policiais das duas delegacias negaram estar em greve. No 47º, o delegado de plantão disse que o problema foi causado pela "lotação" no momento em que o motorista tentou registrar o crime. No 37º, os policiais disseram desconhecer o caso de Dalmir.
A bancária Karoline Khalil Ferreira, 21, vítima de assalto, disse ter enfrentado o mesmo problema. Após a recusa do 37º DP de efetuar o BO pelo roubo de documentos ocorrido na av. M'Boi Mirim, foi encaminhada ao 100º DP. "Se fosse lá nos Jardins, isso não teria acontecido", reclamou.
No 25º DP (Parelheiros), na zona sul, o entregador Cláudio Fernandes dos Santos, 29, e seu ajudante, Renato Fernandes, 32, afirmam que também não conseguiram registrar queixa de um assalto.
Os dois levavam cosméticos a um supermercado, quando foram rendidos. Fernandes disse que foi obrigado a ficar no banheiro do mercado, sob a mira de revólver, durante dez minutos. Os dois esperaram 40 minutos no DP. Ligaram então para a transportadora e foram orientados a ir embora.
Mais cedo, o delegado titular do 25º DP, Antonio Pereira Neto, havia dito que, apesar do apoio à greve, assaltos à mão armada estavam sendo registrados. Isso porque a orientação do comando de greve é que só casos considerados simples, como furtos e perda de documentos, não fossem registrados, já que esses crimes podem ser registrados pela internet.
Após a desistência dos entregadores em fazer o BO, o delegado afirmou que Santos "seria atendido normalmente, mas não quis esperar". O entregador, por sua vez, disse que não recebeu nenhum sinal de que teria o crime registrado.
No 99º DP (Campo Grande), uma plantonista, que não quis se identificar, afirmou que também não estava registrando roubos à mão armada.
Sérgio Marcos Roque, presidente da associação dos delegados, voltou a afirmar que a orientação é registrar casos graves. Ele afirmou que podem ter ocorrido casos isolados.
Só com o registro do BO, a polícia pode iniciar a investigação para tentar prender os responsáveis pelo crime.
Desde a última segunda-feira, a Folha verificou os 93 distritos policiais da cidade de São Paulo, visitando-os ou telefonando. Em 73 deles havia policiais em greve. Os 20 distritos restantes estavam funcionando normalmente.


Colaboraram KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local, e JOÃO PEQUENO


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