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Vítima passa 3 h em cativeiro e ouve "não" em 2 delegacias
Só na 3ª tentativa o motorista conseguiu registrar o assalto em que perdeu a carga
Presidente da associação dos delegados afirma que é caso isolado e que a orientação é registrar casos graves, como roubos
BRUNA SANIELE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um motorista de 47 anos foi
rendido por três assaltantes
ontem, na avenida M'Boi Mirim (zona sul de SP). Após ser
levado a um cativeiro, onde foi
ameaçado por cerca de três horas, e de ter perdido a carga que
transportava, Dalmir da Silva
Filho enfrentou outro drama:
teve de percorrer três delegacias para conseguir registrar
um boletim de ocorrência.
O motorista, que ficou em cativeiro das 6h20 até as 9h40,
passou pelo 37º DP (Campo
Limpo) e pelo 47º DP (Capão
Redondo). No primeiro, ele foi
informado de que os policiais
estavam em greve e orientado a
seguir para o segundo.
Os plantonistas do 47º também não fizeram o BO e sugeriram que Dalmir se dirigisse ao
100º DP (Jardim Herculano).
Só então o crime foi registrado.
À Folha policiais das duas
delegacias negaram estar em
greve. No 47º, o delegado de
plantão disse que o problema
foi causado pela "lotação" no
momento em que o motorista
tentou registrar o crime. No
37º, os policiais disseram desconhecer o caso de Dalmir.
A bancária Karoline Khalil
Ferreira, 21, vítima de assalto,
disse ter enfrentado o mesmo
problema. Após a recusa do 37º
DP de efetuar o BO pelo roubo
de documentos ocorrido na av.
M'Boi Mirim, foi encaminhada
ao 100º DP. "Se fosse lá nos
Jardins, isso não teria acontecido", reclamou.
No 25º DP (Parelheiros), na
zona sul, o entregador Cláudio
Fernandes dos Santos, 29, e
seu ajudante, Renato Fernandes, 32, afirmam que também
não conseguiram registrar
queixa de um assalto.
Os dois levavam cosméticos
a um supermercado, quando
foram rendidos. Fernandes
disse que foi obrigado a ficar no
banheiro do mercado, sob a mira de revólver, durante dez minutos. Os dois esperaram 40
minutos no DP. Ligaram então
para a transportadora e foram
orientados a ir embora.
Mais cedo, o delegado titular
do 25º DP, Antonio Pereira Neto, havia dito que, apesar do
apoio à greve, assaltos à mão
armada estavam sendo registrados. Isso porque a orientação do comando de greve é que
só casos considerados simples,
como furtos e perda de documentos, não fossem registrados, já que esses crimes podem
ser registrados pela internet.
Após a desistência dos entregadores em fazer o BO, o delegado afirmou que Santos "seria
atendido normalmente, mas
não quis esperar". O entregador, por sua vez, disse que não
recebeu nenhum sinal de que
teria o crime registrado.
No 99º DP (Campo Grande),
uma plantonista, que não quis
se identificar, afirmou que
também não estava registrando roubos à mão armada.
Sérgio Marcos Roque, presidente da associação dos delegados, voltou a afirmar que a
orientação é registrar casos
graves. Ele afirmou que podem
ter ocorrido casos isolados.
Só com o registro do BO, a
polícia pode iniciar a investigação para tentar prender os responsáveis pelo crime.
Desde a última segunda-feira, a Folha verificou os 93 distritos policiais da cidade de São
Paulo, visitando-os ou telefonando. Em 73 deles havia policiais em greve. Os 20 distritos
restantes estavam funcionando normalmente.
Colaboraram KLEBER TOMAZ, da Reportagem
Local, e JOÃO PEQUENO
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