São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Poluição de água em píer de Ubatuba leva a despejo de barcos

Governo notifica 53 garagens de lanchas e interdita sete oficinas no Saco da Ribeira a pedido de Cetesb e Ibama

Única marina pública do litoral norte operava sem licença há 34 anos; desconfiados, atingidos dizem que irão à Justiça

JOSÉ BENEDITO DA SILVA

ENVIADO ESPECIAL A UBATUBA

O empresário Adam Getlinger, 73, tem um hobby: levar mulher, filhos, netos e amigos para passear de barco pelas ilhas do litoral norte, como Anchieta e Ilhabela.
Os passeios, a bordo da Solaris, uma lancha de 35 pés (11 m de comprimento), saíam do píer do Saco da Ribeira, em Ubatuba (SP), um dos maiores da região e o único com uma marina pública.
Como ele, dezenas de turistas de classe média alta usavam o píer, ao lado da rodovia Rio-Santos (SP-55), como base para o lazer náutico.
O hobby, porém, está ameaçado, no meio de uma polêmica que expõe os velhos problemas do píer, que opera desde 1977, quando foi criado, sem licença ambiental.
De um lado, Fundação Florestal, Ibama, Cetesb e Ministério Público Federal -do outro, donos de barcos, mecânicos, marceneiros, pintores, marinheiros e pescadores.
Acionados pelo MPF, Ibama e Cetesb constataram a poluição das águas por tinta, verniz, solvente e óleos, em grande parte pelas atividades típicas das oficinas, como pintura e reforma de barcos.
A Fundação Florestal, que gerencia o píer, de 14 mil m˛ (dois campos de futebol), interditou quase todas as atividades, à exceção das turísticas, esportivas e de pesca.
Sete oficinas náuticas foram fechadas, e 53 donos de barcos foram notificados a procurar um abrigo privado.
Ao menos cinco deles decidiram não tirar as lanchas e irão à Justiça, mesma ação adotada pelas oficinas. "Queremos que o Estado justifique mais claramente a decisão", diz Getlinger, que usa o local desde 1989 sem, segundo ele, haver contestação ambiental.
Para ele, pode haver outra motivação, como inviabilizar o píer estatal para concedê-lo à iniciativa privada -ao lado, há uma marina particular, que não foi embargada.
Quem também desconfia é Manoel Bonfin de Jesus, 59, cuja oficina, no local há 30 anos, foi interditada. Ele vê interesse do mercado imobiliário de alto padrão, crescente no entorno. "Para eu sair, terão de me indenizar", diz.

FUNÇÃO SOCIAL
"É interesse privado em espaço público. Não é função do Estado atender esse tipo de usuário", afirma Tasso Drummond, da Fundação Florestal, gerente do local.
De acordo com ele, o píer tem que focar as atividades de maior interesse social, como pesca, esporte e turismo.
O desembarque de peixes segue liberado, mas a fundação apertou a fiscalização ambiental e até fiscal, que nem é sua atribuição. "Está cada vez mais difícil desembarcar aqui", diz o pescador Carlos Alberto Teixeira, 44.
Ele vê aumento da atividade clandestina. "Tem muita gente desembarcando seus peixes nas praias", afirma.
Outra atividade importante no píer, que segue liberada, é a partida de escunas turísticas, como as que vão para a ilha Anchieta, a 8 km.
Para Drummond, os embargos são oportunidade para repensar o píer, modernizá-lo e, talvez, até conceder parte das atividades à iniciativa privada, como garagens.
O píer arrecada cerca de R$ 10 mil mensais das garagens e oficinas, mas as adequações para comportar essas atividades custariam R$ 500 mil.


Texto Anterior: Michel Moock (1926-2011): Um antigo vendedor de presentes
Próximo Texto: 'Multas não representam nem um quinto dos motoristas alcoolizados'
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.