São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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Professora do Rio ainda tenta superar trauma de massacre

Elaine Alves diz que coração dispara ao voltar a colégio em Realengo, onde atirador matou 12 alunos em abril

Docente faz tratamento com psiquiatra da prefeitura; além dela, duas professoras seguem licenciadas

DIANA BRITO

DO RIO

Licenciada desde o massacre de abril na escola Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio, a professora de português Elaine Pais Alves, 44, ainda tenta vencer o trauma para voltar às salas de aula.
Na ocasião, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 23, invadiu a escola e matou com tiros à queima-roupa 12 estudantes. Depois de ser atingido, se matou.
Elaine estava numa sala de aula no segundo andar da escola -na área que seria o próximo alvo do atirador.
Há 24 anos como docente da unidade, ela disse que, desde aquela manhã, sente as mãos trêmulas e sua frio sempre que tenta se reaproximar do colégio.
Em tratamento com um psiquiatra da prefeitura, toma Lexotan (medicamento indicado para distúrbios de ansiedade) e conta que até hoje é arrebatada pelas lembranças. Além dela, duas professoras seguem licenciadas e sete alunos ainda não voltaram às aulas.
Segundo o diretor da escola, Luís Marduk, 30 estudantes deixaram a unidade.
Leia abaixo trechos da entrevista com a professora.

 

Folha - Por que a senhora não retornou às aulas?
Elaine Pais Alves -
O trauma. Aos poucos estou me sentindo mais fortalecida. Já vim outras duas vezes aqui [no colégio] para tentar resolver questões burocráticas e dar prosseguimento ao meu tratamento psiquiátrico, mas hoje [sexta-feira] é a primeira vez que volto a me sentir melhor na escola. Antes, meu coração disparava logo que eu entrava na rua do colégio. Sentia minhas mãos trêmulas e suava frio.

O que mais marcou a senhora nessa tragédia?
A cena que mais me marcou foi quando eu, a professora Sandra Elvira e a intérprete de língua de sinais ficamos deitadas no chão com os alunos, rezando, porque a qualquer momento alguém podia entrar ali atirando. O que não sai da cabeça são aquelas imagens da gente rezando, eu querendo sair daquela situação, pensando na minha filha de 13 anos, e alguém podendo entrar a qualquer momento. Na hora, a gente nem raciocinou em colocar uma mesa atrás da porta, tamanha era nossa inexperiência. Essa imagem ficou muito mais do que passar do lado do corpo do Wellington coberto.

Qual foi a sensação de viver essa situação?
É uma sensação de fragilidade. Até hoje, ainda sinto um pouquinho de receio. Fico mais nervosa quando tudo volta à tona. As emissoras de TV e os jornais mostram as imagens de terror e isso incomoda. Como aconteceu ontem [quinta] por causa do caso do menino [que atirou contra a professora e se suicidou] na escola em São Paulo.

A senhora quer mesmo voltar a trabalhar na escola?
Sinto falta. Estou licenciada até o dia 22 de outubro. Minha liberação vai depender da perícia, mas já estou decidida a voltar. É uma missão.


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