São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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REVITALIZAÇÃO DO CENTRO

Ipiranga será restaurado em 2005; Marabá terá cinco salas e investimento de R$ 7 milhões

Salas de cinema passarão por reformas

DA REPORTAGEM LOCAL

A abertura da 28ª Mostra de Cinema, na noite da última quinta-feira, em São Paulo, virou um manifesto em defesa das salas do centro da cidade. O local da cerimônia era simbólico: o Cine Ipiranga, um projeto do arquiteto modernista Rino Levi (1901-1965), inaugurado em 1941.
Por uma noite, a entrada e as colunas de mármore branco, o hall e o balcão em forma de arco experimentaram de novo o glamour. Porque o que vigora ali no resto do ano é a degradação.
Se depender de Wilton Figueiredo, dono da Alvorada, empresa que administra o Ipiranga, a degradação cessa no próximo ano. Figueiredo tem planos de restaurar a fachada e renovar o interior das duas salas.
Não é a única boa nova para os cinemas do centro. A Playarte, dona de um circuito de 36 salas, vai transformar o Cine Marabá, de 1945, em um conjunto multiplex com cinco salas.
O projeto é assinado pelo arquiteto Ruy Ohtake. Há também outra distribuidora interessada no Marrocos, cinema de 1951 que foi o mais luxuoso de São Paulo.
O projeto mais avançado é o da Playarte para o cine Marabá. O cinema de 1.500 lugares será dividido em cinco salas. Todas elas terão projetores novos, som digital e poltronas com braço retrátil.
Otelo Bettin Coltro, vice-presidente da Playarte, acha que não é loucura investir R$ 7 milhões num cinema como o Marabá.
"Não dá para ter uma só sala com 1.500 lugares. Isso não funciona mais", afirma. Hoje, o Marabá consegue reunir até 8.000 espectadores na primeira semana num lançamento arrasa-quarteirão como "Homem Aranha". Na quinta semana, ele atrai só 20% do público inicial. Em filmes menos espetaculares, a primeira semana começa com 2.000 pessoas e cai num ritmo maior.
Com 2.000 pessoas não dá para pagar os custos de uma sala de 1.500 lugares, segundo Coltro. "É por isso que precisamos ter salas menores: para fazer revezamento de filmes. Eles estréiam nas salas maiores e depois migram para as menores", exemplifica. Ele trabalha com a perspectiva de começar as obras em novembro e concluí-las em maio. A Playarte fez o mesmo tipo de operação no Bristol, na avenida Paulista. Hoje, a taxa de ocupação das salas é "fantástica", de acordo com Coltro: de 40% a 45% dos lugares, contra 25% do padrão internacional.
O restaurado Cine Olido, inaugurado na galeria homônima, já tem uma ocupação igual ao padrão internacional. O secretário municipal de Cultura, Celso Frateschi, no entanto, acha pouco -o cinema tem 240 lugares.
"O pessoal de cinema me disse que sala é como forno de pizza: tem de esquentar para depois crescer", conta.
O maior incentivo ao restauro das salas no centro, no entanto, ainda não saiu do papel. É a lei do vereador Nabil Bonduk (PT), que isenta os cinemas de rua do pagamento de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e reduz o ISS (Imposto sobre Serviços) de 5% para 2%. O projeto foi aprovado na Câmara em 27 de novembro de 2003, a prefeita sancionou-o em 7 de janeiro deste ano, mas até agora não foi regulamentada -ou seja, não foi especificado como funcionaria na prática.
Frateschi diz que haverá contrapartida por parte dos cinemas que receberem os benefícios: um número de ingressos equivalente a 10% do total de lugares da sala deverá ser distribuído gratuitamente, mas não sabe ainda para quem nem como.
O projeto está desde janeiro na Secretaria de Finanças. "Não há omissão da prefeitura, mas essa demora não se justifica", concorda Frateschi. A assessoria da prefeita Marta Suplicy informou que a regulamentação deverá ser concluída em 2004, para que a lei possa ser aplicada no ano seguinte.

Participação do Estado
Leon Cakoff, que organiza a Mostra de Cinema de São Paulo com Renata de Almeida, acha que os incentivos fiscais são insuficientes para a reforma das salas do centro. "Na Europa, esses restauros são feitos pelo governo. Aqui, o governo tomba o cinema , o imóvel perde valor e o mico fica com o dono do prédio", afirma.
Cakoff -que é sócio de um dos melhores conjuntos de salas de São Paulo, no shopping Frei Caneca- diz ter sentido na pele a complexidade que é manter uma sala no centro. Ele negociou por dois anos o aluguel do Marrocos mas jogou a toalha por causa do preço pedido.
Frateschi endossa a cobrança de Cakoff de que o Estado deveria ter uma participação mais incisiva na recuperação das salas: "Toda vez que a gente sugere a participação do Estado em projetos culturais privados levamos um pau do cão. Principalmente da imprensa".
(MARIO CESAR CARVALHO)


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