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REVITALIZAÇÃO DO CENTRO
Ipiranga será restaurado em 2005; Marabá terá cinco salas e investimento de R$ 7 milhões
Salas de cinema passarão por reformas
DA REPORTAGEM LOCAL
A abertura da 28ª Mostra de Cinema, na noite da última quinta-feira, em São Paulo, virou um manifesto em defesa das salas do
centro da cidade. O local da cerimônia era simbólico: o Cine Ipiranga, um projeto do arquiteto
modernista Rino Levi (1901-1965), inaugurado em 1941.
Por uma noite, a entrada e as colunas de mármore branco, o hall e
o balcão em forma de arco experimentaram de novo o glamour.
Porque o que vigora ali no resto
do ano é a degradação.
Se depender de Wilton Figueiredo, dono da Alvorada, empresa
que administra o Ipiranga, a degradação cessa no próximo ano.
Figueiredo tem planos de restaurar a fachada e renovar o interior
das duas salas.
Não é a única boa nova para os
cinemas do centro. A Playarte,
dona de um circuito de 36 salas,
vai transformar o Cine Marabá,
de 1945, em um conjunto multiplex com cinco salas.
O projeto é assinado pelo arquiteto Ruy Ohtake. Há também outra distribuidora interessada no
Marrocos, cinema de 1951 que foi
o mais luxuoso de São Paulo.
O projeto mais avançado é o da
Playarte para o cine Marabá. O cinema de 1.500 lugares será dividido em cinco salas. Todas elas terão projetores novos, som digital
e poltronas com braço retrátil.
Otelo Bettin Coltro, vice-presidente da Playarte, acha que não é
loucura investir R$ 7 milhões
num cinema como o Marabá.
"Não dá para ter uma só sala
com 1.500 lugares. Isso não funciona mais", afirma. Hoje, o Marabá consegue reunir até 8.000 espectadores na primeira semana
num lançamento arrasa-quarteirão como "Homem Aranha". Na
quinta semana, ele atrai só 20%
do público inicial. Em filmes menos espetaculares, a primeira semana começa com 2.000 pessoas
e cai num ritmo maior.
Com 2.000 pessoas não dá para
pagar os custos de uma sala de
1.500 lugares, segundo Coltro. "É
por isso que precisamos ter salas
menores: para fazer revezamento
de filmes. Eles estréiam nas salas
maiores e depois migram para as
menores", exemplifica. Ele trabalha com a perspectiva de começar
as obras em novembro e concluí-las em maio. A Playarte fez o mesmo tipo de operação no Bristol,
na avenida Paulista. Hoje, a taxa
de ocupação das salas é "fantástica", de acordo com Coltro: de
40% a 45% dos lugares, contra
25% do padrão internacional.
O restaurado Cine Olido, inaugurado na galeria homônima, já
tem uma ocupação igual ao padrão internacional. O secretário
municipal de Cultura, Celso Frateschi, no entanto, acha pouco
-o cinema tem 240 lugares.
"O pessoal de cinema me disse
que sala é como forno de pizza:
tem de esquentar para depois
crescer", conta.
O maior incentivo ao restauro
das salas no centro, no entanto,
ainda não saiu do papel. É a lei do
vereador Nabil Bonduk (PT), que
isenta os cinemas de rua do pagamento de IPTU (Imposto Predial
e Territorial Urbano) e reduz o
ISS (Imposto sobre Serviços) de
5% para 2%. O projeto foi aprovado na Câmara em 27 de novembro de 2003, a prefeita sancionou-o em 7 de janeiro deste ano, mas
até agora não foi regulamentada
-ou seja, não foi especificado como funcionaria na prática.
Frateschi diz que haverá contrapartida por parte dos cinemas que
receberem os benefícios: um número de ingressos equivalente a
10% do total de lugares da sala deverá ser distribuído gratuitamente, mas não sabe ainda para quem
nem como.
O projeto está desde janeiro na
Secretaria de Finanças. "Não há
omissão da prefeitura, mas essa
demora não se justifica", concorda Frateschi. A assessoria da prefeita Marta Suplicy informou que
a regulamentação deverá ser concluída em 2004, para que a lei possa ser aplicada no ano seguinte.
Participação do Estado
Leon Cakoff, que organiza a
Mostra de Cinema de São Paulo
com Renata de Almeida, acha que
os incentivos fiscais são insuficientes para a reforma das salas
do centro. "Na Europa, esses restauros são feitos pelo governo.
Aqui, o governo tomba o cinema ,
o imóvel perde valor e o mico fica
com o dono do prédio", afirma.
Cakoff -que é sócio de um dos
melhores conjuntos de salas de
São Paulo, no shopping Frei Caneca- diz ter sentido na pele a
complexidade que é manter uma
sala no centro. Ele negociou por
dois anos o aluguel do Marrocos
mas jogou a toalha por causa do
preço pedido.
Frateschi endossa a cobrança de
Cakoff de que o Estado deveria ter
uma participação mais incisiva na
recuperação das salas: "Toda vez
que a gente sugere a participação
do Estado em projetos culturais
privados levamos um pau do cão.
Principalmente da imprensa".
(MARIO CESAR CARVALHO)
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