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Gravação de voz do Boeing é encontrada
Peça, vital para reconstituir o acidente que matou 154 pessoas, foi encontrada a 20 cm de profundidade, próximo à cauda da aeronave
Comando da Aeronáutica informou ontem à PF que só poderá repassar dados sobre a investigação por
determinação da Justiça
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Aeronáutica localizou ontem o cilindro de voz do
Boeing-737/800 da Gol que fazia o vôo 1907 no dia 29 de outubro e caiu na selva amazônica, no maior acidente da aviação do país.
A peça será vital para reconstituir o acidente, uma vez que
registra a conversa entre os
dois pilotos e pode revelar, por
exemplo, se eles tiveram tempo
de perceber a colisão com o jato
executivo Legacy, fabricado pela Embraer.
O cilindro será levado na sexta-feira para o Canadá, onde será analisado pela OACI (Organização de Aviação Civil Internacional), da mesma forma que
foram periciados os demais
componentes das caixas-pretas
do Boeing e do Legacy.
Sob a terra
De acordo com o ministro da
Defesa, Waldir Pires, o cilindro
foi encontrado a 20 centímetros de profundidade, próximo
à cauda da aeronave, por meio
de detectores de metal utilizados pelas equipes de buscas.
"Foi um êxito", disse Pires.
Mais de 300 militares continuarão o trabalho no local para
encontrar os restos de uma última vítima.
Ao mesmo tempo em que divulgou a localização da peça, a
Aeronáutica precisou se explicar ontem sobre um ofício enviado à Polícia Federal.
Assinado pela assessoria jurídica do Comando da Aeronáutica, o documento afirma que
impedimentos legais impossibilitam que a comissão da Aeronáutica que investiga o acidente do vôo 1907 forneça os
dados da investigação.
O documento cita especificamente as NSCAs (Norma de Segurança do Comando da Aeronáutica) 3-6 e 3-12, de acordo
com as quais tais informações
têm caráter sigiloso e não podem ser repassadas para uso
em processos que visam a punição de eventuais envolvidos em
acidentes.
Convenção
As normas se baseiam na
Convenção de Chicago, da qual
o Brasil é signatário. O objetivo
das investigações de autoridades aeronáuticas é indicar as
causas do acidente e contribuir
para melhorar as regras de
aviação civil, e não propriamente apontar culpados.
Principalmente porque o
acesso aos dados é franqueado
de maneira voluntária pelas
empresas.
Como há a possibilidade de
negligência, erro ou mesmo crime cometido pelos pilotos do
Legacy, do Boeing e dos controladores de vôo, a PF abriu um
inquérito para apurar responsabilidades. Neste ponto ocorreu a confusão. A Aeronáutica
não pode fornecer os dados, é
preciso acionar a Justiça.
Analogamente, é como dizer
que os bancos não podem fornecer à PF dados dos clientes
-exceto com a ordem de um
magistrado.
Informado sobre essa necessidade, o delegado Renato Sayão encaminhou ontem o pedido à Justiça Federal em Sinop
(MT), na qual tramita a investigação, para que determine a entrega dos dados.
O acidente
No acidente, morreram 154
pessoas, todas a bordo do
Boeing da Gol, que seguia de
Manaus rumo a Brasília. A aeronave caiu depois de colidir
com o Legacy, que ia para os Estados Unidos.
O choque aconteceu a 37 mil
pés -uma altitude que é destinada somente para aeronaves
no sentido norte-sul, o que indica que o Legacy viajava na
"contramão".
(IURI DANTAS, ANDRÉA MICHAEL E CLÁUDIA DIANNI)
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