São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006

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Gravação de voz do Boeing é encontrada

Peça, vital para reconstituir o acidente que matou 154 pessoas, foi encontrada a 20 cm de profundidade, próximo à cauda da aeronave

Comando da Aeronáutica informou ontem à PF que só poderá repassar dados sobre a investigação por determinação da Justiça

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Aeronáutica localizou ontem o cilindro de voz do Boeing-737/800 da Gol que fazia o vôo 1907 no dia 29 de outubro e caiu na selva amazônica, no maior acidente da aviação do país.
A peça será vital para reconstituir o acidente, uma vez que registra a conversa entre os dois pilotos e pode revelar, por exemplo, se eles tiveram tempo de perceber a colisão com o jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer.
O cilindro será levado na sexta-feira para o Canadá, onde será analisado pela OACI (Organização de Aviação Civil Internacional), da mesma forma que foram periciados os demais componentes das caixas-pretas do Boeing e do Legacy.

Sob a terra
De acordo com o ministro da Defesa, Waldir Pires, o cilindro foi encontrado a 20 centímetros de profundidade, próximo à cauda da aeronave, por meio de detectores de metal utilizados pelas equipes de buscas.
"Foi um êxito", disse Pires. Mais de 300 militares continuarão o trabalho no local para encontrar os restos de uma última vítima.
Ao mesmo tempo em que divulgou a localização da peça, a Aeronáutica precisou se explicar ontem sobre um ofício enviado à Polícia Federal.
Assinado pela assessoria jurídica do Comando da Aeronáutica, o documento afirma que impedimentos legais impossibilitam que a comissão da Aeronáutica que investiga o acidente do vôo 1907 forneça os dados da investigação.
O documento cita especificamente as NSCAs (Norma de Segurança do Comando da Aeronáutica) 3-6 e 3-12, de acordo com as quais tais informações têm caráter sigiloso e não podem ser repassadas para uso em processos que visam a punição de eventuais envolvidos em acidentes.

Convenção
As normas se baseiam na Convenção de Chicago, da qual o Brasil é signatário. O objetivo das investigações de autoridades aeronáuticas é indicar as causas do acidente e contribuir para melhorar as regras de aviação civil, e não propriamente apontar culpados.
Principalmente porque o acesso aos dados é franqueado de maneira voluntária pelas empresas.
Como há a possibilidade de negligência, erro ou mesmo crime cometido pelos pilotos do Legacy, do Boeing e dos controladores de vôo, a PF abriu um inquérito para apurar responsabilidades. Neste ponto ocorreu a confusão. A Aeronáutica não pode fornecer os dados, é preciso acionar a Justiça.
Analogamente, é como dizer que os bancos não podem fornecer à PF dados dos clientes -exceto com a ordem de um magistrado.
Informado sobre essa necessidade, o delegado Renato Sayão encaminhou ontem o pedido à Justiça Federal em Sinop (MT), na qual tramita a investigação, para que determine a entrega dos dados.

O acidente
No acidente, morreram 154 pessoas, todas a bordo do Boeing da Gol, que seguia de Manaus rumo a Brasília. A aeronave caiu depois de colidir com o Legacy, que ia para os Estados Unidos.
O choque aconteceu a 37 mil pés -uma altitude que é destinada somente para aeronaves no sentido norte-sul, o que indica que o Legacy viajava na "contramão".
(IURI DANTAS, ANDRÉA MICHAEL E CLÁUDIA DIANNI)


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