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ENTREVISTA JULIANA BELLOQUE
Defensoria Pública está sucateada em São Paulo
Presidente de associação quer que defensores públicos, e não a OAB, dêem assistência jurídica à população carente
DA REPORTAGEM LOCAL
A presidente da Associação
Paulista dos Defensores Públicos, Juliana Garcia Belloque,
afirmou ontem que a Defensoria está sucateada e que "a população pobre é refém da OAB"
-em referência ao convênio da
seção SP da Ordem dos Advogados do Brasil com a Defensoria para atendimento jurídico à
população carente.
A discussão tem como base
uma das reivindicações dos defensores, que paralisaram as
atividades por cinco dias na semana passada. A categoria reivindica ampliação do seu quadro [hoje de 400], o que poderia
diminuir a demanda pelos advogados indicados pela OAB.
Nas cidades sem defensores,
a Ordem indica advogados para
atender à população carente.
Eles são remunerados com o
Orçamento da Defensoria
(criada há dois anos, independente do Executivo, mas mantida com recursos do governo).
O presidente da OAB-SP,
Luiz Flávio Borges D'Urso,
classificou a declaração de Belloque como "ofensiva". Ele
disse que foram os advogados
da Ordem que atenderam à população na greve dos defensores. E que os recursos do convênio não podem, legalmente, pagar defensores, por serem de
custos extrajudiciais.
Abaixo, trechos da entrevista
com a representante dos defensores públicos, que fez um balanço da paralisação da categoria.
(FÁBIO TAKAHASHI)
FOLHA - Qual o balanço da greve?
JULIANA GARCIA BELLOQUE - Chamamos a atenção da população
para o sucateamento do serviço. O segundo objetivo era que
o governo começasse a negociar. Ele estava silente aos nossos pleitos havia quatro meses
[duplicação dos quadros e reajuste salarial: hoje a maioria
dos defensores ganha entre R$
7.350 e R$ 13.928, e a categoria
pedia equiparação com juízes e
promotores, ou seja, R$ 18 mil].
Também houve avanço, pois
houve reunião com o secretário
de Gestão Pública nesta terça e
na próxima terça haverá outra.
FOLHA - O secretário Marrey [Justiça] disse que a greve mostrou a importância do convênio com a OAB,
porque não se pode "ser refém de
humores político-partidários".
BELLOQUE - Lamentamos essa
postura, que nos gerou espanto. Em julho, a OAB deixou a
população sem atendimento
por um mês, pois não foi concedido reajuste na tabela de honorários que ela queria. O Estado gastou, só em 2007, R$ 272
milhões com o convênio, o suficiente para quadriplicar a Defensoria. Em resposta ao não-reajuste, a OAB ficou um mês
sem atender à população.
FOLHA - Mas o convênio foi suspenso pela própria Defensoria.
BELLOQUE - Não, foi a OAB. Ela
não aceitou a proposta e não renovou o convênio. O secretário
diz que não pode ficar refém do
humor da Defensoria. Mas hoje
a população pobre é refém da
OAB, uma instituição privada,
que age por interesses particulares. Quando não aceitou a
proposta, parou o atendimento. E os advogados do convênio
atendem casos particulares,
não há priorização à população
carente. O defensor tem dedicação exclusiva.
FOLHA - O que a sra. quer dizer com
"sucateamento" da Defensoria?
BELLOQUE - A falta de defensor
gera atendimento precário,
com filas e atenção inadequada.
Os defensores têm hoje, cada
um, entre 2.000 e 3.000 processos em andamento [a Secretaria da Justiça afirma que os
400 defensores e os 47 mil advogados conveniados atendem
adequadamente a população].
FOLHA - Quais são os próximos
passos do movimento?
BELLOQUE - Decidiremos no dia
7 se entramos em greve, dependendo das negociações.
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