|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Projetos públicos em SP "expulsam" 165 mil pessoas
É o maior deslocamento populacional obrigatório já registrado no Estado
Maior parte das casas
é irregular ou está em áreas de risco ou de proteção; obras incluem Rodoanel e megaparque
JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO
Projetos em execução pelo
poder público em São Paulo
vão desalojar compulsoriamente de suas casas cerca de
50 mil famílias em dez anos
(2006-2015), no maior deslocamento populacional forçado já registrado no Estado.
Considerando 3,3 moradores por casa -média da prévia do Censo 2010-, o número de desalojados chega a 165
mil, mais que a população de
São Caetano do Sul (153 mil).
A maioria das casas é irregular, está em áreas de risco
ou preservação ambiental.
Quase a metade das famílias
desalojadas será atingida por
ações de cunho ambiental.
A maior delas é o Várzeas
do Tietê, um megaparque linear de 107 km de extensão
que vai do extremo leste de
São Paulo até Salesópolis,
onde nasce o rio Tietê.
O projeto prevê desalojar
10 mil famílias em seis cidades, sendo a maior parte na
região do Jardim Pantanal,
onde remoções começaram
após enchentes em 2009.
Outro ambicioso plano é o
Programa Mananciais, que
busca a despoluição das represas Billings e Guarapiranga e prevê demolir 8.500 casas irregulares no entorno.
O rol de projetos inclui remoções de favelas na Operação Urbana Água Espraiada,
obras viárias da prefeitura, o
Rodoanel e a expansão do
metrô -esta desapropriará
imóveis até em bairros nobres como Morumbi.
A maioria dos projetos é
executada pelo governo do
Estado ou prefeitura, mas
parte tem recursos do PAC
(federal) ou financiamento
de órgãos como BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) e Banco Mundial.
Nem todos os removidos
até agora conseguiram moradias do poder público. Em alguns casos, ganham auxílio-aluguel de R$ 300 até serem
encaixados em programas
habitacionais em andamento. Em outros, recebem um
pagamento -que varia de
R$ 5.000 a R$ 8.000- e têm
de procurar uma outra casa.
Para o ambientalista Carlos Bocuhy, da ONG Proam, a
retirada das famílias de áreas
de preservação é "demanda
antiga e necessária", mas o
poder público demorou para
reverter o adensamento populacional nessas áreas. "As
ocupações na Billings começaram na década de 80."
Para o arquiteto Kazuo Nakano, especialista em demografia, da ONG Instituto Pólis, o planejamento equivocado também amplifica os
problemas das remoções.
"Fica muito complicado
quando os agentes não apresentam alternativa de moradia." Para ele, os processos
"não têm trabalho adequado
antes, durante e depois".
Próximo Texto: Moacyr Scliar: A esposa imaginária (e ideal) Índice | Comunicar Erros
|