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JOÃO MACHADO DOS SANTOS (1924-2010)
João Sem Terra, 25 anos sumido
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
Por 25 anos, João Machado
dos Santos viveu fora da terra
onde nascera. Não que quisesse. Natural da gaúcha
Santo Antônio da Patrulha,
ele teve de fugir de casa devido à perseguição política.
Ligado ao então governador do RS, Leonel Brizola,
João integrou o Master (Movimento dos Agricultores Sem
Terra). Nessa época, ganhou
o apelido João Sem Terra, pelo qual ficaria conhecido.
Após o golpe militar, foi
preso e torturado. Com a ajuda de grupos de esquerda, fugiu para Goiás, deixando a
família. Adotou outro nome:
Moisés Manuel da Silva.
A luta ele não largou. Segundo um dos filhos, chamado Moisés Manuel da Silva
Filho, o pai encampou a briga de garimpeiros goianos e
fez parte de uma cooperativa.
Teve nova família, que não
sabia de seu passado.
Nos anos 80, o jornalista
Carlos Wagner, ao saber da
existência do agricultor, decidiu investigar seu paradeiro. Um dos textos que publicou abria com a frase: "Onde
andará João Sem Terra?".
O resultado veio um ano
depois, quando João tomou
conhecimento da notícia e
decidiu telefonar para o repórter. No final da década de
80, ele voltou para casa.
Só não retornara antes por
duvidar do fim da ditadura.
Achava que a Lei da Anistia
era uma isca para prender
militantes de esquerda.
Carlos Wagner lançou o livro "A Saga do João Sem Terra". Há ainda um documentário sobre ele, deste ano, feito por Teresa Noll Trindade.
Nos últimos anos, João vivia num sítio. Tentava receber indenização do Estado.
Ele morreu na quarta, aos
86, de problemas cardíacos.
coluna.obituario@uol.com.br
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