São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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JOÃO MACHADO DOS SANTOS (1924-2010)

João Sem Terra, 25 anos sumido

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Por 25 anos, João Machado dos Santos viveu fora da terra onde nascera. Não que quisesse. Natural da gaúcha Santo Antônio da Patrulha, ele teve de fugir de casa devido à perseguição política.
Ligado ao então governador do RS, Leonel Brizola, João integrou o Master (Movimento dos Agricultores Sem Terra). Nessa época, ganhou o apelido João Sem Terra, pelo qual ficaria conhecido.
Após o golpe militar, foi preso e torturado. Com a ajuda de grupos de esquerda, fugiu para Goiás, deixando a família. Adotou outro nome: Moisés Manuel da Silva.
A luta ele não largou. Segundo um dos filhos, chamado Moisés Manuel da Silva Filho, o pai encampou a briga de garimpeiros goianos e fez parte de uma cooperativa.
Teve nova família, que não sabia de seu passado.
Nos anos 80, o jornalista Carlos Wagner, ao saber da existência do agricultor, decidiu investigar seu paradeiro. Um dos textos que publicou abria com a frase: "Onde andará João Sem Terra?".
O resultado veio um ano depois, quando João tomou conhecimento da notícia e decidiu telefonar para o repórter. No final da década de 80, ele voltou para casa.
Só não retornara antes por duvidar do fim da ditadura. Achava que a Lei da Anistia era uma isca para prender militantes de esquerda.
Carlos Wagner lançou o livro "A Saga do João Sem Terra". Há ainda um documentário sobre ele, deste ano, feito por Teresa Noll Trindade.
Nos últimos anos, João vivia num sítio. Tentava receber indenização do Estado.
Ele morreu na quarta, aos 86, de problemas cardíacos.

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