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CRIME EM CAMPINAS
Segundo Geleião, Toninho do PT foi morto por contrariar interesses de sequestrador, dono de peruas clandestinas
Líder do PCC diz que Andinho matou prefeito
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O depoimento à polícia de um
dos principais líderes do PCC reabrirá uma frente de investigação
no caso do assassinato do prefeito
de Campinas, Antonio da Costa
Santos, o Toninho do PT, morto a
tiros no ano passado, e pode esclarecer o que não se sabe até hoje:
a motivação do crime.
O preso José Márcio Felício, o
Geleião, um dos fundadores do
PCC (Primeiro Comando da Capital), disse à polícia, no último
dia 8, que o sequestrador Andinho, apelido de Wanderson Nilton de Paula Lima, 24, mandou
matar Toninho do PT porque o
prefeito planejava desativar determinadas linhas de lotação.
O sequestrador afirmou, conforme o depoimento de Geleião,
ser dono de algumas peruas clandestinas que seriam afetadas pelas
mudanças previstas na cidade.
Geleião disse ter ouvido a versão do próprio Andinho, em uma
conversa que tiveram no CRP
(Centro de Reabilitação Prisional)
de Presidente Bernardes, onde
ambos ficaram confinados com
outros líderes do PCC.
O prefeito de Campinas morreu
dentro do próprio carro na noite
de 10 de setembro, após ser baleado no trânsito, perto de um shopping que costumava frequentar
todas as segundas-feiras.
Em abril deste ano, Andinho foi
indiciado pelo homicídio e, em
junho, denunciado pelo Ministério Público, mas sem motivo concreto para o crime. O inquérito
diz que ele e outros três comparsas estavam em fuga, após uma
tentativa frustrada de sequestro, e
mataram Toninho porque o carro
dele atrapalhara o caminho.
A informação prestada por Geleião ao delegado Rui Fontes, do
Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e aos promotores Roberto
Porto e Márcio Sérgio Christino,
do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), faz parte de uma série
de denúncias feitas por ele contra
o PCC. Geleião está jurado de
morte por antigos companheiros
da organização e tenta trocar a
ajuda à polícia por proteção e benefícios para sua mulher, que
também está presa.
Repercussão
O Ministério Público de Campinas ainda não recebeu o depoimento de Geleião, mas foi avisado
do conteúdo dele. ""É uma informação importante porque confirma o que consta da acusação, que
Andinho foi um dos autores. A
questão da motivação, teremos de
analisar", diz o promotor Ricardo
Silvares, 31, do Gaerco, o grupo
regional de Campinas que investiga crime organizado.
Em todos os depoimentos que
deu desde sua prisão, em fevereiro, o sequestrador negou participação no assassinato. As outras
três pessoas que estariam com ele
foram mortas pela polícia. Ontem, a Folha não conseguiu localizar o advogado de Andinho.
Segundo a Promotoria, há um
inquérito em andamento na Delegacia Anti-Sequestro de Campinas sobre os negócios do grupo de
Andinho. A mulher dele, Luciane
Bernardino Seixas, 24, presa em
abril por envolvimento com tráfico, disse em depoimento ter linhas de peruas de lotação, mas
em nome de ""laranjas", informou
o Ministério Público.
Outra pessoa do círculo de amizade do sequestrador, o policial
civil Rogério Salum Diniz, preso
por suposta ligação com a quadrilha de Andinho, tem uma lotação
em nome de sua mulher, conforme a investigação.
Mudanças
A morte de Toninho atrasou as
mudanças para as lotações, mas
não impediu que elas fossem implantadas. Hoje, os cerca de 500
perueiros estão incorporados ao
plano de transporte da cidade, cobrando tarifa maior do que a estabelecida para os ônibus.
No início deste ano, os perueiros chegaram a bloquear por três
dias uma avenida em frente ao Paço Municipal para protestar contra a diferenciação. A categoria
tenta reduzir o preço da passagem
com campanhas de abaixo-assinado e medidas judiciais.
Os promotores do caso Toninho vão pedir à Justiça que Geleião seja ouvido em Campinas
sobre o homicídio. A versão dele
será confrontada com a de outras
testemunhas.
No mês passado, a principal testemunha de acusação, Cristiano
Nascimento de Faria, 25, ex-integrante da quadrilha de Andinho,
mudou a versão que havia dado à
polícia e, ao ser ouvido pela Justiça, isentou o sequestrador de culpa no caso.
Colaborou a Folha Campinas
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