São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Estudantes arrombam ônibus contra tarifa

Manifestantes invadiram terminal; Polícia Militar usou gás lacrimogêneo

Protesto teve "consultoria" de nove militantes de Santa Catarina, que no ano passado barraram alta de 30% em Florianópolis


Marlene Bergamo /Folha Imagem
Adolescentes enfrentam policiais no terminal de ônibus; portas de alguns veículos foram arrombadas


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Às 19h, a passeata com 500 jovens contrários ao aumento das tarifas de ônibus -de R$ 2 para R$ 2,30- entrou correndo no terminal de ônibus do parque Dom Pedro, no centro de São Paulo, ao som de bateria ritmada, e gritando: "Pula a catraca, pula a catraca".
Poucos segundos, e o ônibus amarelo do Consórcio Plus com destino à Vila Mara, em São Miguel Paulista, na zona leste, teve sua porta de trás arrombada. Quem estava na fila aguardando a vez de entrar pela porta da frente no veículo virou-se para trás e entrou por onde é a saída -sem ter de passar pela catraca. "Por uma vida sem catracas", dizia uma das faixas carregadas.
Outros oito ônibus seriam arrombados na seqüência -"Passagem gratuita para quem quiser", gritavam os manifestantes dirigindo-se às filas. "Estamos dando um presente aos usuários de ônibus", dizia o estudante Guaxinim, uma das lideranças do movimento, justificando o arrombamento das portas traseiras.
Os manifestantes queriam percorrer todo o terminal, explicando sua ação. Para terem tempo para essa "conversa com o povo", fecharam o terminal com 20 jovens que, deitados no chão, impediam o trânsito.
Cinco minutos depois, e a Polícia Militar chegou com 50 homens e bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e espingardas de bala de borracha. "Que sacanagem, que sacanagem, é um roubo o preço da passagem", tentou-se gritar, enquanto alguns ensaiavam a resistência.
Pedras, paus, bombinhas de 20 e de 50 (dessas, de festa junina), foram arremessados contra os policiais. "Sou estudante, tenho coragem, contra o aumento da passagem", dizia a palavra de ordem.
O soldado Santiago sangrava no rosto e no braço -pedrada. O tenente Luciano Miguel apresentava uma equimose na perna direita -idem.
Do lado dos manifestantes, o quartanista da Escola de Sociologia e Política Cristian Alejandro Cataldo Santander, 26, levou três tiros de balas de borracha, golpes de cassetete nas costas, três chutes na cabeça e teve o braço quebrado pelos policiais ao ser preso com outro jovem, Rugero Santi, estudante de biologia da Universidade de São Paulo. Ontem à noite, Santander foi atendido no Hospital Vergueiro.

Floripa é aqui
As lideranças da frente que dirige a luta contra o aumento das tarifas em São Paulo não escondem: sua tática de mobilização urbana foi copiada daquela que, em Florianópolis, em junho de 2005, conseguiu impedir o aumento de 30% que a prefeitura sulista pretendia aplicar à tarifa dos ônibus.
Nove militantes catarinenses transferiram-se para São Paulo para ajudar a organizar a ação contra o aumento das tarifas. Transmitem o script vencedor de Florianópolis e que consiste em realizar passeatas em série -todos os dias, sem descanso- , arrombar ônibus e liberar catracas, que é para conquistar o apoio da população.
Um desses militantes transferidos é Guaxinim, do IML, sigla que, neste caso, significa "Instituto do Motim Libertário". Anarquista, ele estudava arte contemporânea na Universidade Federal de Santa Catarina e agora está matriculado na Universidade de São Paulo.
Não se viam bandeiras do PT. Nem os radicais PSTU e PSOL estavam representados na passeata e invasão do terminal de ônibus. Também a União Nacional dos Estudantes e a Central Única dos Trabalhadores não estavam presentes.
Em vez disso, muito jovem vestido de preto, camisetas da banda Ramones, correntes na roupa, piercings, punks. Também tinha "zapatistas brasileiros", que desfilaram com bandeiras vermelhas e pretas, e camisetas enroladas no rosto, para parecer o Subcomandante Marcos, líder do movimento mexicano. "Kassab, mas que vergonha, essa passagem tá mais cara que a maconha", protestava um grupinho.
Ah, também tinha os palhaços do "Palhaços pelo Passe Livre", que defendem a vida sem catracas e a passagem gratuita para todos.


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