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Para urbanistas, sobram os espaços e faltam as idéias
Pequenos parques, praças e playgrounds de Nova York são considerados bons exemplos de uso de terrenos ociosos
O uso dos espaços livres nas cidades, segundo arquitetos ouvidos pela Folha, é uma maneira de a cidade se transformar dentro dela
DA REPORTAGEM LOCAL
Urbanistas ouvidos pela Folha sobre os "vazios urbanos"
decorrentes de terrenos baldios, estacionamentos, orlas
ferroviárias e galpões industriais avaliam, em uníssono:
sobram espaços e faltam idéias
para o melhor aproveitamento
dos espaços de São Paulo.
Para Álvaro Puntoni, professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da
USP (Universidade de São Paulo), e da Escola da Cidade, essas
áreas disponíveis deveriam ser
usadas para ""construir vazios",
e não ocupá-los".
"Quase que invariavelmente
a ocupação dos vazios subtrai
definitivamente os espaços da
cidade. Acho que deveríamos ir
noutra direção, de manutenção
e construção de um novo significado para estes espaços", diz o
professor da FAU.
A mesma idéia de aproveitar
os vazios da cidade é defendida
pelo arquiteto Fernando Viégas. "A idéia não é pegar o vazio
e preencher. Isso gera uma perda. É preciso repensar e qualificar o vazio", afirma Viégas.
No momento em que a Prefeitura de São Paulo discute a
ampliação do parque Ibirapuera, o maior da cidade e localizado na zona sul, especialistas
apontam que terrenos de menor escala também são importantes para o melhor aproveitamento da paisagem urbana.
"Os [espaços vazios] da avenida Sumaré [zona oeste de São
Paulo] poderiam ser mais bem
aproveitados como área pública. São Paulo carece de áreas de
lazer", afirma Gilberto Belleza,
presidente do IAB (Instituto de
Arquitetos do Brasil).
No primeiro mundo
Os pequenos parques, praças
e playgrounds encravados entre as quadras da abarrotada
ilha de Manhattan, em Nova
York, são apontados como bons
exemplos de melhor aproveitamento de áreas como as que estão disponíveis na cidade de
São Paulo atualmente.
Em Nova York, os moradores
podem usar as áreas de lazer
menores próximas de casa sem
a necessidade de lotar os grandes parques e também sem a
necessidade, por exemplo, de
se deslocar com seus veículos,
como ocorrer em São Paulo.
Hoje, o Ibirapuera sofre com
a superlotação, sobretudo aos
fins de semana, e tem problemas com as (poucas) vagas de
estacionamento para carros.
Para parar carro no parque hoje é preciso pagar.
Outro ponto de unanimidade
entre os urbanistas ouvidos pela reportagem é que, considerando o ritmo acelerado de
crescimento da cidade, os terrenos baldios tendem a se
transformar rapidamente ao
serem absorvidos pela construção imobiliária, que criam conjuntos residenciais fechados
sem nenhuma relação com o
espaço urbano.
O uso coletivo dos vazios, dizem os arquitetos, é um jeito de
a cidade se transformar por
dentro dela.
"Pensar em programas públicos ou de uso coletivo para
esses lugares é fundamental",
afirma o arquiteto Jonathan
Davies.
(VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)
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