São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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José Nicioli, sonho talhado em madeira

WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Diz a família que nos 50 anos em que viveu em São Paulo, José Ulisses Nicioli nunca esquecera o "sonho de voltar para a terra natal", Jacutinga, no sul de Minas Gerais -da qual foi arrancado quando tinha 1 ano de vida.
Sonho que o bancário aposentado realizou há dez anos, ao comprar uma casa tranqüila para morar com a mulher. Na oficina que erguera no quintal, passava o dia esculpindo porta-chaves de madeira, em que reproduzia as fachadas das casas coloniais mineiras que fotografava. Não os vendia, mas dava de presente aos amigos.
Que eram muitos, não só porque Nicioli fosse um bonachão fã de uma longa conversa, mas porque, há cerca de três anos, fora convidado para entrar para a maçonaria. E foram os irmãos da Loja Minas Livre Esperança que o ajudaram, no momento mais difícil de sua vida.
Há três anos Nicioli havia descoberto um carcinoma renal de células claras, doença de difícil tratamento e que lhe tirara um rim. Se a luta foi vencida, a batalha continuou, com uma metástase que exigiu um caro tratamento com Sunitinib. O medicamento era a única esperança. Mas uma caixa custava mais de R$ 11 mil.
O preço fez com os amigos recorressem ao Ministério da Saúde -uma verdadeira odisséia de laudos médicos, telefonemas e e-mails garantiu o recebimento da primeira caixa. Pouco tempo depois conseguiram a segunda -mas esta ficou pela metade.
Ele morreu na terça, no hospital, em Campinas, aos 61 anos, deixando uma filha e uma neta em Jacutinga.


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