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Os presos me castigavam, afirma jovem
DA ENVIADA A BELÉM (PA)
DA REPÓRTER-FOTOGRÁFICA
L. deita-se no colo de Diva de
Jesus Negrão Andrade, 42, do
Conselho Tutelar de Abaetetuba, uma das responsáveis pela
sua libertação. Abraça a mãe
biológica, de 44 anos. Em seguida, joga-se nos braços da
madrasta, para logo depois
agarrar-se à agente da Polícia
Rodoviária Federal que faz a
sua escolta.
A Folha encontrou L. e sua
família (mãe, madrasta e o pai
biológico) nas dependências da
Polícia Rodoviária Federal em
Belém, sob o comando do superintendente Isnard Ferreira,
51, que vem garantindo a proteção do grupo desde sexta-feira
passada, a pedido da Subsecretaria de Promoção dos Direitos
da Criança e do Adolescente,
órgão ligado à Presidência da
República.
A menina morena ainda traz
marcas de queimaduras nas solas dos pés, hematomas pelo
corpo causados por surras com
pau de vassoura e os cabelos
bem curtos, cortados a facão
pelos presos com quem dividiu
a cela em Abaetetuba.
"Eles me castigavam quando
eu não fazia o que eles
queriam", diz. Agora, ela está
eufórica. Ri, dança, conversa,
oferece bolachas de chocolate a
todos.
De acordo com a mãe biológica, cearense que está há 23
anos no Pará, sua filha está "como um passarinho que fugiu da
gaiola". Ela pede: "Maneira um
pouquinho, menina. A situação
é grave". L. não escuta, sente-se
segura agora que está perto da
família e longe de Abaetetuba.
São todos muito pobres. O
pai, trabalhador rural, teve de
retirar um dos pulmões, atacado pelo câncer. Fala com um
fiapo de voz (a doença também
afetou-lhe as cordas vocais) e
seus olhos enchem-se de lágrimas ao contar o que a filha passou na cadeia. Antes, com os
dedos indicador e médio esticados, pedia, em mímica, um
cigarro para a ex-mulher.
Parte da família mora isolada
em Vila do Conde, município
de Barcarena. Outra parte mora na zona rural. L., por sua vez,
foi morar com um tio em Abaetetuba, para poder estudar. Ela
freqüentava a quinta série do
supletivo do Colégio Santa Clara, onde suas matérias preferidas eram matemática e ciências -"odeia" português.
Por essas contingências geográficas, a distância mínima
entre cada ponta da família era
de duas horas, indo de ônibus.
Os contatos acabavam sendo
esparsos. "Uma vez por semana, às vezes mais, às vezes menos", diz a mãe, que tem outros
cinco filhos. Por isso, quando a
garota sumiu, ninguém se deu
conta.
Adolescente típica, L. está
sempre com fome. Para o primeiro encontro com a mãe depois da cadeia, fez um único pedido sério: que ela levasse de
presente uma caixa de bombons Garoto. Diz que já teve
um grande amor, Luízo -assim mesmo-, que morreu.
Sobre o que aconteceu na delegacia de Abaetetuba, L. pouco
quer falar. Mas diz que havia
"um cara muito gente boa" que
a defendia quando a violência
crescia demais. Foi esse preso,
aliás, o primeiro a dizer que todos na cadeia sabiam que L. tinha apenas 15 anos de idade,
quando a Polícia Civil insistia
em dizer que ela era maior.
(LAURA CAPRIGLIONE e MARLENE BERGAMO)
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