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Maioria dos jovens já viu vítima de homicídio
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram ainda que 30% deles já sofreram algum tipo de violência
Conclusões foram tiradas a
partir de duas pesquisas;
na capital paulista,
13% afirmaram já ter presenciado um homicídio
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL
A violência se incorporou à
rotina do jovem brasileiro. A
maioria (55%) diz ter visto corpos de pessoas assassinadas
nos últimos 12 meses e 30% relatam que já foram vítimas de
algum tipo de violência. Os dados são de duas pesquisas coordenadas pelo Fórum Brasileiro
de Segurança Pública a pedido
do Ministério da Justiça e divulgadas ontem, em São Paulo.
Uma delas, feita pelo Instituto Datafolha entre junho e julho deste ano, mede a percepção que 5.185 jovens de 12 a 29
anos têm da violência em 31 cidades. O outro, elaborado pela
Fundação Seade com dados de
2006, cria um índice que avalia
a vulnerabilidade dos jovens à
violência em 266 cidades com
mais de 100 mil habitantes.
Para o menino Saulo (nome
fictício), 13, que mora na favela
Jardim Filhos da Terra, na zona norte da capital paulista, assistir a assassinatos virou "coisa comum". Em menos de um
ano, ele já viu duas pessoas serem mortas no bairro -uma
pela polícia e a outra, durante
tiroteio no meio da rua. Saulo
conta que já apanhou várias vezes em casa e até de policiais.
"É normal a gente ver pobre
apanhando. Eu mesmo já apanhei de policiais. Nessas horas
a gente fica com raiva da polícia
e olha para o pessoal da boca
[de fumo] de outro jeito", diz.
Pelo Datafolha, 30% dos jovens se encontram na faixa dos
que estão em constante contato com a violência -eles frequentemente são agredidos
(muitos pela família), veem
ações violentas (como assassinatos e agressões policiais) ou
têm acesso facilitado a armas
de fogo, entre outros aspectos.
Na capital paulista, 13% dos
entrevistados disseram já ter
testemunhado um assassinato.
Naturalização do crime
Para o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise
da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), os dados são "extremamente preocupantes". "A convivência com a violência significa
primeiro a vitimização; segundo, a naturalização e uma intimidade com ela. Os jovens passam a aprender com a violência
e acham que é um método legítimo para resolver conflitos."
A assessora especial do Ministério da Justiça, Regina Miki, diz ver a pesquisa de uma
outra perspectiva: "Quase 70%
dos jovens estão distantes da
violência". Agora, o foco do trabalho, segundo ela, deve ser
descobrir como esses adolescentes conseguiram escapar da
criminalidade e mostrar os
exemplos para os demais.
As pesquisas, inéditas, serão
usadas para nortear ações do
Ministério da Justiça.
Para o diretor-executivo do
Instituto Sou da Paz, Denis
Mizne, é preciso entender como o jovem "processa a violência que vê". "Quando o jovem
está exposto à violência, se ele
tiver um problema na aula, depreda a escola. Se não gosta que
mexam com a namorada dele,
mata. Esse é o repertório dele",
afirmou no evento de ontem.
Para o secretário do fórum,
Renato Sérgio de Lima, os dados são graves, mas estão longe
de demonstrar um caos na segurança pública. "Os problemas podem ser solucionados."
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