São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009

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GILBERTO DIMENSTEIN

Em câmara lenta


Dede aprendeu a descobrir Nova York, onde morou por 12 anos, pelos personagens montados nas motocicletas

DE LONGE , é mais um dos integrantes, entre os centenas de milhares, da mais visível tribo paulistana, presente em todos os locais, em alta velocidade, ziguezagueando entre os carros -a tribo dos motociclistas. Mas, de perto, montado em sua moto, Dede Fedrizzi tem um jeito especial de descobrir a cidade de São Paulo: registrar a imagem, parada, dos motociclistas. "São seres que, nas ruas, estão sempre em movimento. Quero mostrar o rosto deles."
Assim, ele vai descobrindo personagens, tribos urbanas e monta um álbum com fotos tiradas em suas viagens pelo mundo. "Fico atento no trânsito. Quando suspeito que encontrei um bom personagem, saio atrás, peço para ele parar, tiro uma foto e também coleciono uma história de vida."

 

Dede tem uma curiosidade especial sobre as sensações dos motociclistas. "Minha experiência é que a moto, por ser algo em geral solitário, leva a uma viagem íntima." Ele é motociclista desde a adolescência, quando morava em Porto Alegre.
Fez viagens longas pelo Brasil e, depois, levou esse hábito aos lugares em que morou na Europa e nos Estados Unidos.

 

Sua especialidade é a fotografia publicitária e de moda e, muitas vezes, ele trabalha as imagens usando recursos das artes plásticas.
Fotos de mulheres exuberantes, tiradas em várias partes do mundo, o levaram a expor em galerias de Londres, Nova York, Milão, Zurique e Paris suas obras também entraram em bienais de São Paulo, Roma e Atenas.
Dede aprendeu a descobrir Nova York, onde morou por 12 anos, pelos personagens montados nas motocicletas e teve contato com as mais diversas tribos, cada qual com seus costumes e diferentes ângulos de olhar a cidade.
Foi lá que fez uma de suas viagens mais profundas. Uma série de suas fotos reflete o tom sombrio de áreas que eram, então, deterioradas em Nova York. "Estava tão contaminado com as cores locais que suspeitei que iria pirar e vim para São Paulo."

 

Trouxe na mala o prazer de documentar os motociclistas, uma das maiores vítimas do trânsito paulistano. "Como ando de moto há muito tempo, posso dizer o seguinte: aqui em São Paulo, não recomendo."
Alguns motociclistas se sentem ameaçados com o modo que Dede se aproxima deles e tentam fugir, acelerando. Mas, como sua moto é muito potente, ele consegue alcançá-los e os convence de que só quer conversar e, claro, tirar uma foto.

 

Não sabe se um dia vai reunir o material em um livro ou em uma exposição. É apenas um hobby, um passatempo enquanto trafega com sua moto, sobre a qual aprendeu a ver em câmara lenta.

 

PS - Dede lança, nesta semana, uma exposição intitulada "Acid Rain", com fotos de mulheres tiradas no Brasil -sai o sombrio de Nova York e entram as cores fortes. Coloquei algumas delas no www.catracalivre.com.br onde também é possível ver parte da coleção de fotos dos motociclistas.

gdimen@uol.com.br


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