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EDUCAÇÃO 2
Autora de 'Caminho Suave' pesquisou palavras
Pioneira associou
letras a imagens
da Reportagem Local
A professora Branca Alves de Lima, 87, autora da cartilha que alfabetizou um quarto da população
brasileira, afirma que só "ao final
de diversos anos é que se vai chegar à conclusão se o construtivismo dá ou não resultados".
No ano passado, dona Branca fechou sua editora, onde vendeu 40
milhões de cartilhas. "Estão projetando, quase decretando, que os
alunos não usem mais cartilhas",
afirma sobre os técnicos do Ministério da Educação.
Mas as críticas param por aí. "Eu
gostaria até de adotar (o construtivismo) para chegar a uma conclusão. Mas hoje, eu escuto mal e enxergo mal."
A história da "Caminho Suave"
revela um dos traços mais característicos da educação brasileira: a
imposição de metodologias a partir de um poder central.
Na década de 30, quando dona
Branca começou a lecionar no interior paulista, a prática "em moda" para alfabetização se chamava
processo analítico.
"Depois de 21 anos chegaram à
conclusão que não funcionava e
deram liberdade didática aos professores", conta. "Aí comecei a
construir o meu sistema, de imagens. Fiz uma porção de cartazes.
Mas, no começo, as figuras não
eram associadas às letras."
Insight
"Um dia, estava olhando meus
cartazes e tive um insight. Comecei
a desenhar com giz em cima dos
cartazes. No G, desenhei um gato e
disse 'Veja como a letra G se parece com um gato'. Depois, no F, desenhei uma faca. Percebi que as
crianças, associando uma letra a
uma figura, esqueciam menos."
Branca pesquisou em dicionários palavras para cada letra de seu
"sistema": A de abelha, B de barriga, C de cachorro (a imagem é o
rabo) e assim por diante.
E foi principalmente dessa forma, com letras, sílabas e palavras
desenhadas, que se alfabetizou no
Brasil até a década de 70. Foi quando a psicóloga argentina Emilia
Ferreiro descobriu alguns processos envolvidos na aprendizagem
da leitura e escrita que revolucionaram a prática na área.
Ferreiro mostrou que, de forma
semelhante à aquisição da linguagem falada, as crianças primeiro
constroem um repertório de textos
escritos e, aos poucos, formulam
hipóteses sobre como esses textos
se organizam.
Inversamente ao processo das
cartilhas (letras, sílabas, palavras,
orações), Ferreiro propôs que se
alfabetizasse com textos inteiros e
que, a partir desses textos, fosse
feito um trabalho de identificação
de suas estruturas (orações, palavras, sílabas, letras).
Diante disso, as cartilhas "saíram de moda" e a alfabetização
passou a ter jornais e livros como
material auxiliar para a "construção" desse conhecimento.
Essa abordagem está atingindo
seu apogeu no Brasil este ano, com
a edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1ª a 4ª série pelo
Ministério da Educação.
Dona Branca recebe até hoje pedidos de cartilhas -mas diz que já
não tem recursos para fazer doações. Atualmente, elas são editadas
pela Edipro, que em São Paulo
atende na rua Conde de São Joaquim, 332, na Liberdade, CEP
01320-010. O telefone é (011)
607-4788.
(FERNANDO ROSSETTI)
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