São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2000

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VESTIBULAR


Entrada desses alunos em faculdades federais e estaduais é igual há 11 anos

Escola pública tem "cota" de 34%



PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A entrada nas universidades públicas brasileiras dos estudantes oriundos das escolas municipais, estaduais e federais continua praticamente inalterada desde o início da década de 90. Passados 11 vestibulares, o percentual de ingresso desses estudantes continua próximo dos 33,8%, em média.
Esse levantamento foi feito pela Agência Folha em oito universidades -sete delas federais e uma estadual, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Ao todo, foram 21 universidades consultadas, mas apenas sete enviaram os dados; destas, somente três informaram os números referentes ao vestibular de 1990.
Naquele ano, a média de ingresso dos alunos das escolas públicas na Unicamp, UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e UFPB (Universidade Federal da Paraíba) foi de 33,4%, o mesmo percentual de 2000.
Isoladamente, o percentual de ingresso na Unicamp foi de 33% nos dois vestibulares. Nas duas federais houve variação para cima e para baixo: na UFMG foi registrado um crescimento de seis pontos percentuais (passou de 32,4%, em 90, para 38,4%, em 2000) e na UFPB houve uma diminuição de 5,4 pontos (de 34%, em 90, para 28,6%, em 2000).
Considerando que em 11 anos as universidades públicas aumentaram o número de vagas ofertadas, conclui-se que as escolas públicas têm, pelo menos, acompanhado essa evolução e mantido o índice de aproveitamento de 33,8% nos vestibulares.
Na UFMG, por exemplo, ingressaram 1.606 estudantes de escolas públicas no vestibular de 2000, contra 1.059 em 1990, o que significou um aumento de 51,7%.
Nesse mesmo período, o ingresso dos alunos das escolas particulares cresceu 15%, enquanto o número de vagas oferecidas passou de 3.268 para 4.177, um crescimento de 27,81%.
De acordo com o pró-reitor de Graduação da UFMG, José Nagib Árabe, mesmo chegando ao final da década com uma aprovação maior dos "alunos públicos" nos vestibulares realizados pela instituição, o ritmo de crescimento ainda é "muito lento".
Ele utiliza como comparação o fato de haver em Minas Gerais muito mais alunos cursando o segundo grau na rede pública do que na rede privada. Segundo a Secretaria de Estado da Educação, o número de alunos matriculados nas escolas públicas de segundo grau (federal, estadual e municipal) é de 887,2 mil, contra 105,7 mil na rede privada.
Essa supremacia, no entanto, não reflete sequer nas inscrições para os vestibulares. Apesar de 88% dos secundaristas em Minas serem da rede pública, somente no vestibular 2000 eles foram maioria entre os 77,7 mil inscritos na UFMG (52%). No início da década, os "alunos públicos" eram 39% dos inscritos.
A baixa aprovação nos vestibulares dos alunos da rede pública, especialmente os da rede estadual e municipal, está diretamente ligada à qualidade de ensino. Mas há outros fatores, como a pouca oferta de cursos noturnos, o que afasta o estudante da rede pública -que geralmente trabalha de dia.
"Se quiser aumentar a inclusão, tem que se abrir cursos noturnos", disse o pró-reitor da UFMG.
Neidson Rodrigues, especialista em política educacional e membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, considera que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) pode dar mais chances para as escolas públicas.
Isso porque, segundo ele, o Enem, caso venha a ser aproveitado pelas universidades, vai provocar mudanças no processo seletivo, na medida em que será valorizada, mais do que o conhecimento, a competência.
"Os conhecimentos em ação é que até hoje não foram valorizados no ensino médio. No vestibular, você faz a opção entre as questões corretas e as incorretas, que exige um longo processo de memorização. O Enem está tentando jogar com o distanciamento, a capacidade de crítica e a capacidade de expressão", disse.
Algumas universidades já admitem o Enem no processo seletivo. É o caso da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), em Minas. Os candidatos que fizeram o Enem estão dispensados de se submeter às provas de conhecimentos gerais no vestibular de 2001 da universidade. Se quiserem, podem fazer o exame e comparar as notas. Vale a mais alta.


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