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VERÃO
Praia Grande, na Baixada Santista, substituiu cenário de favela à beira-mar por praças, mas continua poluída
Ex-capital da farofa quer agora água limpa
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
"Triste comédia / A família paulistana / Não tem fim de semana /
Não tem praia nem montanha /
(...) / Que tragédia / Sexta-feira,
aluga a Kombi / Vai lotada na Imigrantes / Pra um piquenique em
Praia Grande / Que é gigante."
Até os anos 80, a ironia dos roqueiros do Joelho de Porco em
"Aeroporto de Congonhas" (LP
"São Paulo 1554-Hoje", de 1976)
era justificada pelas legiões de turistas de um dia que, em busca de
lazer, desciam a serra do Mar em
ônibus fretados e peruas Kombi e
se instalavam desordenadamente
nas ruas da cidade (localizada a 86
km de São Paulo).
Hoje, dez anos depois de iniciada a urbanização que alterou radicalmente a paisagem da orla e deflagrou um conjunto de ações
destinado a apagar o estigma de
capital dos "farofeiros", Praia
Grande enfrenta o desafio de oferecer águas limpas aos banhistas,
a fim de consolidar uma nova face
para o turismo na cidade.
Não existem mais carros estacionados na areia nem bares
montados em barracas de madeira que compunham um cenário
de favela à beira-mar. Submetida
a um projeto paisagístico, a orla
de Praia Grande ostenta atualmente praças destinadas à contemplação, com bancos e floreiras, playgrounds, áreas de convivência e de lazer e uma ciclovia
que se estende de uma ponta à outra dos 22,5 km de praias.
No entanto, apesar dos R$ 67,6
milhões investidos pela Sabesp
desde 1995 em sistemas de coleta e
tratamento de água e esgoto, a
balneabilidade das praias ainda é
o calcanhar-de-aquiles para o turismo na cidade.
No boletim da Cetesb divulgado
anteontem, 12 das 62 praias da
Baixada Santista estavam em situação imprópria para banho.
Entre essas 12, as oito localizadas
em Praia Grande.
Esgoto
Para conter o esgoto levado para
o mar por mais de 120 canais e
córregos que deságuam nas
praias, a prefeitura investiu em
uma obra complementar às ações
da Sabesp e implantou um interceptor numa faixa paralela à orla.
A tubulação recolhe a água pluvial contaminada -decorrente
de ligações de esgoto clandestinas- e a encaminha para um dos
dois emissários submarinos da cidade, que, por sua vez, lançam os
dejetos em alto-mar.
"Como prefeitura, estamos
atuando para além do que seria a
nossa função", afirmou o secretário municipal de Obras Públicas,
Luiz Fernando Lopes.
Mesmo assim, a Cetesb tem
identificado nas medições realizadas neste ano um índice anormal
de contaminação nas praias do
município, cuja causa ainda não
está explicada, de acordo com a
gerente do Setor de Águas Litorâneas da agência ambiental paulista, Cláudia Lamparelli.
Segundo ela, até 1996, todas as
praias da cidade eram classificadas como impróprias para banho
em mais de 50% do ano. De 1997
em diante, isso se repetia somente
no extremo sul da orla, em bairros
ainda não dotados de extensão de
rede suficiente para atender à demanda de esgoto.
No Relatório de Balneabilidade
das Praias Paulistas de 2002, divulgado em julho passado pela
Cetesb, Praia Grande ainda era
-ao lado de Santos- o município do litoral cujas praias apresentavam as condições menos favoráveis para banho.
Apesar disso, os progressos
eram evidentes -as praias Cidade Ocian, Guilhermina e Júlia Maria estiveram próprias em mais de
90% do tempo. A que apresentou
a pior condição foi a da Vila Caiçara (imprópria em 38% dos dias
do ano). Porém, entre agosto e
novembro deste ano, de acordo
com a classificação semanal da
Cetesb, as praias de Praia Grande
tiveram 89 episódios de impropriedade em 144 amostras coletadas no período (61,8%).
"É estranho o que está acontecendo neste ano porque, depois
dos emissários e da interceptação
dos cursos d'água, foi observada
uma melhora significativa. Os valores de enterococos [bactéria indicadora de contaminação por esgoto] estão muito altos. Algo está
errado", afirmou a gerente da Cetesb Cláudia Lamparelli.
Em 2003, a piora da qualidade
da água é maior não apenas se
comparada com 2002, mas em relação ao avanço obtido após 1997,
segundo a gerente, que pretende
reunir técnicos da Sabesp, da Cetesb e da prefeitura para discutir o
assunto e buscar as causas. "Alguma coisa está acontecendo que
precisa ser investigada."
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