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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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VERÃO

Praia Grande, na Baixada Santista, substituiu cenário de favela à beira-mar por praças, mas continua poluída

Ex-capital da farofa quer agora água limpa

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

"Triste comédia / A família paulistana / Não tem fim de semana / Não tem praia nem montanha / (...) / Que tragédia / Sexta-feira, aluga a Kombi / Vai lotada na Imigrantes / Pra um piquenique em Praia Grande / Que é gigante."
Até os anos 80, a ironia dos roqueiros do Joelho de Porco em "Aeroporto de Congonhas" (LP "São Paulo 1554-Hoje", de 1976) era justificada pelas legiões de turistas de um dia que, em busca de lazer, desciam a serra do Mar em ônibus fretados e peruas Kombi e se instalavam desordenadamente nas ruas da cidade (localizada a 86 km de São Paulo).
Hoje, dez anos depois de iniciada a urbanização que alterou radicalmente a paisagem da orla e deflagrou um conjunto de ações destinado a apagar o estigma de capital dos "farofeiros", Praia Grande enfrenta o desafio de oferecer águas limpas aos banhistas, a fim de consolidar uma nova face para o turismo na cidade.
Não existem mais carros estacionados na areia nem bares montados em barracas de madeira que compunham um cenário de favela à beira-mar. Submetida a um projeto paisagístico, a orla de Praia Grande ostenta atualmente praças destinadas à contemplação, com bancos e floreiras, playgrounds, áreas de convivência e de lazer e uma ciclovia que se estende de uma ponta à outra dos 22,5 km de praias.
No entanto, apesar dos R$ 67,6 milhões investidos pela Sabesp desde 1995 em sistemas de coleta e tratamento de água e esgoto, a balneabilidade das praias ainda é o calcanhar-de-aquiles para o turismo na cidade.
No boletim da Cetesb divulgado anteontem, 12 das 62 praias da Baixada Santista estavam em situação imprópria para banho. Entre essas 12, as oito localizadas em Praia Grande.

Esgoto
Para conter o esgoto levado para o mar por mais de 120 canais e córregos que deságuam nas praias, a prefeitura investiu em uma obra complementar às ações da Sabesp e implantou um interceptor numa faixa paralela à orla.
A tubulação recolhe a água pluvial contaminada -decorrente de ligações de esgoto clandestinas- e a encaminha para um dos dois emissários submarinos da cidade, que, por sua vez, lançam os dejetos em alto-mar.
"Como prefeitura, estamos atuando para além do que seria a nossa função", afirmou o secretário municipal de Obras Públicas, Luiz Fernando Lopes.
Mesmo assim, a Cetesb tem identificado nas medições realizadas neste ano um índice anormal de contaminação nas praias do município, cuja causa ainda não está explicada, de acordo com a gerente do Setor de Águas Litorâneas da agência ambiental paulista, Cláudia Lamparelli.
Segundo ela, até 1996, todas as praias da cidade eram classificadas como impróprias para banho em mais de 50% do ano. De 1997 em diante, isso se repetia somente no extremo sul da orla, em bairros ainda não dotados de extensão de rede suficiente para atender à demanda de esgoto.
No Relatório de Balneabilidade das Praias Paulistas de 2002, divulgado em julho passado pela Cetesb, Praia Grande ainda era -ao lado de Santos- o município do litoral cujas praias apresentavam as condições menos favoráveis para banho.
Apesar disso, os progressos eram evidentes -as praias Cidade Ocian, Guilhermina e Júlia Maria estiveram próprias em mais de 90% do tempo. A que apresentou a pior condição foi a da Vila Caiçara (imprópria em 38% dos dias do ano). Porém, entre agosto e novembro deste ano, de acordo com a classificação semanal da Cetesb, as praias de Praia Grande tiveram 89 episódios de impropriedade em 144 amostras coletadas no período (61,8%).
"É estranho o que está acontecendo neste ano porque, depois dos emissários e da interceptação dos cursos d'água, foi observada uma melhora significativa. Os valores de enterococos [bactéria indicadora de contaminação por esgoto] estão muito altos. Algo está errado", afirmou a gerente da Cetesb Cláudia Lamparelli.
Em 2003, a piora da qualidade da água é maior não apenas se comparada com 2002, mas em relação ao avanço obtido após 1997, segundo a gerente, que pretende reunir técnicos da Sabesp, da Cetesb e da prefeitura para discutir o assunto e buscar as causas. "Alguma coisa está acontecendo que precisa ser investigada."


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