São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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Segundo a PM, o show no cruzamento das avenidas Ipiranga e São João teve platéia de 35 mil pessoas

Apresentação durou mais de duas horas; o ministro da Cultura, Gilberto Gil, também cantou no palco

Solução para o Brasil é SP feliz, diz Caetano

DA REPORTAGEM LOCAL

"O nome da solução do problema Brasil é São Paulo feliz", afirmou Caetano Veloso à multidão.
O cantor levou a diversidade da MPB -com menções a vários compositores nacionais- ao show em homenagem aos 450 anos de São Paulo na madrugada de ontem, no cruzamento das avenidas Ipiranga e São João.
Além de cantar com nomes conhecidos da música popular brasileira, como Jair Rodrigues, Jair Oliveira e Nando Reis, Caetano levou ao palco um representante do movimento hip hop, Rappin" Hood, e fez homenagens a Tom Jobim (que nasceu no dia 25 de janeiro) e a Chico Buarque.
Um músico desconhecido da maioria despertou a atenção quando, convidado por Jair Rodrigues e Jair Oliveira, com quem já gravou, recitou seu poema "São Paulo, Fim do Dia". O autor, José Domingos, 72, "nascido em Minas, mas adotado por São Paulo", que também já gravou com Hebe Camargo e Noite Ilustrada, entre outros símbolos paulistanos, era um dos mais emocionados.
O grande improviso da noite foi do ministro da Cultura, Gilberto Gil, que não estava na programação oficial e cantou "Desde que o Samba é Samba". Gil, de terno, voltou no fim, quando todos os convidados subiram ao palco, tocando violão em "Sampa", a canção mais esperada e repetida.
Meia hora antes do show, um clipe com a versão de "Sampa" de João Gilberto entrou no telão, mas foi cortado no meio. Um pouco depois da 0h, Caetano cantou só a primeira parte da música, sem acompanhamento.
Além de "Sampa", os artistas cantaram juntos "Lampião de Gás", sucesso de Inezita Barroso, e "São, São Paulo, Meu Amor", de Tom Zé.
Devido a problemas no som, muitos ouviam apenas a voz de Caetano, cujo microfone melhorou no decorrer da apresentação. A platéia não desanimou e só começou a ir embora depois da 1h15, quando a festa acabou -e a garoa, que havia começado minutos antes do show, também.
Ao sair, Caetano ainda disse aos jornalistas que errou "300 vezes" no show, mas afirmou estar satisfeito com a recepção do público a uma festa "despojada, mas de um conteúdo muito grande".
No total, foram mais de 20 músicas, em mais de duas horas de apresentação.
Segundo a Polícia Militar, a apresentação reuniu 35 mil pessoas -a organização do evento, liderada pela prefeitura, fala em 70 mil. Não houve nenhuma ocorrência considerada grave.

"A cidade merece"
Terno preto, camisa branca, gravata vermelha e chapéu-coco. Foi assim, vestido com as cores da bandeira do Estado de São Paulo, que o vendedor de mel Alberto Mandela, 62, assistiu ao show liderado por Caetano Veloso. "Vim assim porque essa cidade merece todo o respeito. Acolhe todo mundo e dá oportunidades para a gente melhorar de vida. A festa foi muito linda, uma confraternização", disse o mineiro, que chegou há vinte anos na cidade e hoje mora na zona norte.
Assim como Mandela, o gerente de marketing Sergio Kattwinkel é outro mineiro que se diz paulistano de coração. "Essa comemoração está muito emotiva, resgata o orgulho de morar em São Paulo."
A piauiense Maria Delzuita, 53, chegou a chorar quando Caetano cantou "Você Não me Ensinou a te Esquecer". "Chorei, gritei, estou rouca. Essa música é linda. Dá uma saudade não sei de quê."
Moradora de Santo André, Maria Delzuita chegou às 22h no local e ia esperar até as 4h para voltar para casa de trem. Mas tanto ela quanto a filha, Amanda, 17, acharam que o esforço havia valido a pena. "Acho muito legal os pais virem com os filhos."
O padre paulistano Paulo Sérgio Bezerra, 49, também aprovou a mistura de ritmos. "Não gostei muito da parte do hip-hop, mas tudo bem", disse.



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