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TRANSPLANTES
Presidente em exercício admite possibilidade de ter encaminhado pedido sobre paciente ao Ministério da Saúde
Encaminhamentos são "rotina", diz Alencar
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente em exercício, José
Alencar, admitiu, anteontem à
noite em São Paulo, a possibilidade de ter intercedido em favor de
uma paciente candidata a transplante de medula óssea.
"Mandamos verificar no gabinete se havia alguma correspondência nossa dirigida ao hospital
ou dirigida ao médico para pedir
alguma coisa em benefício de alguém, mas não posso dizer também, com segurança, que não fui
procurado por algum pai desesperado, e pode ser que eu tenha
encaminhado para o Ministério
da Saúde", afirmou Alencar, durante a abertura de um congresso
de odontologia.
"Mas, quando se faz qualquer
encaminhamento, é dizendo que
a gente gostaria que fosse avaliada
a possibilidade de atendimento
do pleito. Isso é uma coisa de rotina em todos os gabinetes de autoridades, que não podem dizer que
não atendem a um pai", completou o presidente em exercício.
A suspeita de que houve pressão
política para beneficiar pacientes
que estão na fila de transplantes
de medula óssea foi revelada na
semana passada, quando o ex-diretor do Cemo (Centro de Transplante de Medula Óssea) do Inca
(Instituto Nacional de Câncer),
Daniel Tabak, pediu demissão e
divulgou supostas provas dessa
interferência.
Procurado pela Folha, Tabak
afirmou ontem que não pretende
mais falar sobre o assunto porque
já encaminhou todas as provas de
pressão política na fila dos transplantes para o Inca. Ele disse apenas que a pressão vinda de um vice-presidente é "inaceitável".
A mais forte suspeita de que pode ter havido favorecimento de alguns pacientes apadrinhados por
políticos está justamente no caso
em que, de acordo com o que Tabak escreveu em sua carta de demissão, houve pressão do gabinete do vice-presidente e do Ministério da Saúde.
E-mails
O ex-diretor do Cemo, órgão
responsável por centralizar as
consultas a bancos de doadores
de medula óssea em todo o mundo, anexou em sua carta de demissão quatro e-mails enviados
pelo coordenador-geral do SNT
(Sistema Nacional de Transplantes), Diogo Mendes.
Nesses e-mails, Mendes determina ao Cemo que prossiga,
"imediatamente", com as buscas
para encontrar doador para uma
paciente de São Paulo. O SNT é
um órgão do Ministério da Saúde.
Ainda segundo relato feito pelo
médico em sua carta de demissão,
quando ele questionou Mendes
em uma reunião que aconteceu
no Inca em 16 de dezembro sobre
os motivos da pressão para essa
paciente, o coordenador do SNT
teria dito que "agia por determinação direta do presidente da República em exercício".
Por causa da pressão, de acordo
com Tabak, essa paciente que foi
indicada fez em menos de um
mês exames que outros pacientes
com mesma gravidade e que se
inscreveram no Cemo antes dela
ainda não fizeram.
O processo que determina
quem terá prioridade na lista de
transplantes de medula óssea é
complexo e depende, principalmente, da análise dos médicos do
paciente e do Cemo, que, além de
levar em conta a ordem cronológica de inscrição, avaliam também a gravidade do caso e a possibilidade de encontrar um doador.
Diferentemente do que acontece com outros tipos de transplante, o de medula óssea depende
também de uma série de buscas
por doadores compatíveis. Para
realizar as buscas, no entanto, é
preciso fazer exames sofisticados
nos pacientes e nos possíveis doadores para determinar uma compatibilidade total.
Como o Inca, que é um órgão
do Ministério da Saúde, não tem
recursos nem estrutura para realizar todas as buscas ao mesmo
tempo, é preciso escolher os pacientes que terão prioridade em
detrimento de outros.
A principal queixa de Tabak é
que, no caso da paciente de São
Paulo, essa prioridade teria sido
conseguida por causa da pressão
política, e não apenas por causa
da avaliação entre médicos.
Na semana passada, o Ministério da Saúde divulgou uma nota
em que afirmava que a paciente
em questão ainda "aguarda na fila
a busca e, portanto, ainda não
houve o transplante".
A Folha tem tentado falar com
Diogo Mendes desde quarta-feira,
mas a assessoria de imprensa do
ministério afirma que ele está em
férias, no exterior.
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