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Setor de gás hospitalar é acusado de cartel
Investigação da Secretaria de Direito Econômico concluiu que as 5 principais fornecedoras repartiram o mercado entre si
Órgão do Ministério da Justiça recomendou, pela primeira vez, aplicação de "multa exemplar'; processo será analisado pelo Cade
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Secretaria de Direito Econômico, órgão do Ministério da
Justiça, concluiu que as cinco
principais empresas fornecedoras de gases industriais para
hospitais públicos e particulares (como oxigênio usado no
tratamento de pacientes) formaram um cartel, repartiram o
mercado brasileiro entre si e
combinaram preços mais altos.
São acusadas a White Martins S/A, Aga S/A, a Air Products, a IBG (Indústria Brasileira de Gases) e a Air Liquide.
Depois de três anos de investigação, a SDE recomendou ontem a aplicação de uma "multa
exemplar" às empresas -o que
pode ultrapassar R$ 640 milhões no caso da White Martins, líder do mercado. As 2.700
páginas do processo serão agora analisadas pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), que decidirá se e
como elas serão punidas.
Além das empresas, os executivos podem receber multas.
Neste caso, a punição varia de
20% a 50% do valor que a companhia for condenada a pagar.
"O objetivo era evitar a competição aguerrida entre as empresas. E há indícios da participação direta dos executivos",
afirmou a secretária interina
Mariana Tavares, ontem.
A SDE não calculou o prejuízo causado aos cofres públicos
ou a porcentagem de sobrepreço cobrada pelo cartel. Mas a
secretária Tavares admitiu que
praticamente todas as licitações de Estados e municípios
de 2001 a 2003 foram afetadas.
O caso foi considerado tão
grave e sofisticado pela secretaria que, pela primeira vez, foi
recomendada multa exemplar.
Durante o processo, as empresas negaram as acusações.
Se consideradas culpadas pelo Cade, um tribunal administrativo que julga práticas de
concorrência, as empresas podem receber multa de até 30%
do seu faturamento em 2003,
ano anterior ao início da apuração. A maior multa aplicada até
hoje foi no chamado "cartel das
britas", em São Paulo, que chegou a 20% do faturamento.
Denúncia anônima
A apuração começou depois
de ligações anônimas em 2004,
que serviram para convencer a
Justiça a autorizar a apreensão
de documentos e computadores. O Ministério Público também seguiu o caso e apresentou
denúncia à Justiça federal em
São Paulo, segundo a SDE.
Entre o material apreendido,
há troca de e-mails para designar que empresa cuidaria de cada hospital. Num caso específico, a IBG e a Air Liquide reclamam sobre contratos da AGA
com o hospital de Vila Maria e
Leão 13. A idéia era fazer com
que a AGA deixasse os clientes
ou compensasse as outras duas.
A divisão de mercado também era negociada em encontros em hotéis de Jundiaí e Recife. Cada empresa seria tratada por cores, um código para
evitar rastros: azul (Air Liquide), verde (White Martins),
vermelho (AGA); e amarelo
(Air Products).
De acordo com a SDE, as regiões do país eram divididas para cada cor. Nas licitações, todas apresentavam propostas
semelhantes, exceto a cor escolhida, que vencia a disputa.
Elas também evitariam vender gases para pequenas distribuidoras, de modo a sufocá-las e retirá-las do mercado, conforme a investigação da SDE.
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