São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

No aniversário de SP, bicicletas ocupam lugar dos carros

5.000 ciclistas andaram na ponte Octavio Frias de Oliveira e marginal Pinheiros; passeio foi inspirado em Portugal

Participantes puderam comprar bicicleta por R$ 180; na Liberdade, houve comemoração do Ano Novo Chinês, que começa hoje


Caio Guatelli/Folha Imagem
Ciclistas em evento na ponte Octavio Frias de Oliveira


ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

A placa que indica a proibição de bicicletas na ponte Octavio Frias de Oliveira não teve serventia. Pelo menos na manhã de ontem. No aniversário dos 455 anos de São Paulo, o mais recente cartão-postal da metrópole teve uma ocupação inusitada. Pontualmente às 9h40, um enxame de 5.000 ciclistas, todos de camiseta laranja e bicicleta preta, tomou conta das pistas e, sem pressa ou atropelos, seguiu em direção à marginal Pinheiros.
Numa das mais movimentadas vias da zona sul paulistana, apesar do número de ciclistas, o trânsito fluía que era uma beleza. O mesmo não ocorria na pista local. No território dominado por carros, caminhões e motos, a cena lembrava o cotidiano da cidade: tudo parado.
Dentro de seus carros, muitos paulistanos reclamaram. Mas também teve quem apoiou. O empresário Ivan Lencek, 60, que abastecia seu carro nas proximidades da Daslu, enquanto assistia ao passeio, comentou. "Pela bicicleta, deveriam interditar todas as pistas. São Paulo tinha que ter começado a discutir a importância dessa alternativa de transporte há pelo menos 50 anos, como na Europa."
A iniciativa de organizar a primeira edição do Bike Tour em São Paulo veio do outro lado do Atlântico. Mais precisamente de Portugal. Diamantino Nunes, 34, presidente da organização, conta que tudo começou em Lisboa, em 2006. Reuniu 4.000 ciclistas. No ano seguinte, foram 17 mil, pedalando na capital e no Porto. O evento se repetiu no ano passado e chegou também a Madri, onde 5.000 espanhóis saíram de bike pelas ruas.
Em São Paulo, os convites da Bike Tour se esgotaram em dois dias. A internet foi o principal veículo de divulgação. Mas teve um outro atrativo. Por R$ 180, além da tal camiseta laranja, o ciclista tinha direito a uma bike zero, sem contar a mochila e o capacete. "Não pedalo. Queria comprar uma bike, então juntei o útil ao agradável", disse o técnico em informática Bruno Pelinzon, 27. Houve quem oferecesse R$ 600 por uma bicicleta, sem querer se identificar à reportagem.
Outros paulistanos procuraram algo mais. "Olha, nem pedalo. Parei de fumar há três meses. Estou tentando superar o vício, sabe?", disse a administradora Gisela Battaglia, 32.
O engenheiro Paulo Bellintani, 36, fez um registro fotográfico do passeio, que percorreu ao todo 10 km da ponte até a Cidade Universitária. "No aniversário da cidade, nós temos o privilégio de percorrer vias que são exclusivas para os carros."
Conforme os participantes seguiam pela marginal, outros ciclistas se somavam ao grupo. Com exceção de alguns problemas técnicos, como pedais quebrados, atendidos pelo "pessoal de apoio", não houve incidente, segundo os organizadores.
Cerca de uma hora depois, os ciclistas chegaram à Cidade Universitária. Nem todos completaram a prova. A engenheira Flávia Bassani, 34, foi uma delas. Mas se dizia satisfeita. "Nem bicicleta eu tinha. Agora, depois desse passeio, eu e uns colegas de trabalho vamos até montar um grupo para andar de bike. Não em São Paulo."
Segundo ela, os paulistanos ainda não dão o devido respeito a quem pedala. "Você não viu que atropelaram uma moça?", perguntou para a reportagem, referindo-se à morte da ciclista Márcia Regina de Andrade Prado, 40, por um ônibus na Paulista, no começo deste mês.
Do outro lado da cidade, na Liberdade (região central), apinhada de carros, paulistanos se misturavam à comunidade oriental para dar boas-vindas ao Ano Novo Chinês, que começa hoje. A especialista em cultural chinesa, Hsieh Ling, 47, foi logo avisando. Em 2009, nada de pirotecnia. É ano do boi. Tem que ter pé no chão. "Cuidado para não deixar a teimosa atrapalhar as oportunidades. Fique atento às mudanças", disse ela.
Esses chineses, que tanto pedalam, sabem das coisas.


Texto Anterior: Deputado do DEM acusa Kassab de perseguir igreja
Próximo Texto: João Carlos Martins volta a tocar com os dedos da mão esquerda após 8 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.