São Paulo, terça, 26 de janeiro de 1999

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SANEAMENTO
Rio Guandu, que abastece 82% da região metropolitana do Rio, recebe cerca de 20 toneladas diárias de lixo
Lixão compromete qualidade da água no RJ

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

Uma das principais fontes de poluição do rio Guandu -de onde é retirada para tratamento a água que abastece 82% da região metropolitana do Rio-, o lixão do município de Japeri (Baixada Fluminense) cresceu 275% nos últimos quatro anos.
Às margens do rio Guandu, recebendo cerca de 20 toneladas diárias de lixo, inclusive hospitalar, o lixão não foi até agora desativado porque o governo passado não destinou a verba, já aprovada, para que a Prefeitura de Japeri construísse uma usina de reciclagem e aterro sanitário em outro local.
O novo governo também não acena com uma solução para o problema. Enquanto isso, o lixão continua contribuindo para encarecer o sistema de tratamento de água e para deteriorar a qualidade de vida dos moradores.
Morando vizinha ao lixão, a menina V.L., 14, reclama do cheiro e das moscas. Segundo ela, as crianças da região vivem resfriadas. "No hospital, o médico falou que era por causa do lixo", disse.
O lixão tem atualmente cerca de 15 mil m2. Em 96, tinha 4.000 m2. Em vários pontos são encontrados materiais hospitalares, como seringas e embalagens de soro. Segundo V.L., uma mulher já achou até o corpo de um bebê dentro de um saco de lixo hospitalar.
Com a decomposição do lixo, o chorume (líquido resultante desse processo) infiltra-se no solo, contaminando o lençol freático. Outra parte do chorume escorre a céu aberto, indo para o rio Guandu.
O coordenador da entidade ambientalista Os Verdes, Sérgio Ricardo de Lima, 31, reclama que, com a adoção do sistema de caixa único, o governo passado não liberou a maior parte dos recursos da área ambiental.
Segundo a legislação estadual, os recursos do Fecam (Fundo Estadual de Conservação Ambiental), provenientes das multas ambientais e de 20% dos royalties do petróleo, devem ser aplicados em projetos ambientais.
Mas, segundo Lima, dos cerca de 120 projetos aprovados em 98 pelo Fecam, apenas uns 30 saíram do papel. Dentre eles, ficou de fora o projeto para a construção de uma usina de reciclagem de lixo e aterro sanitário em Japeri.
Por enquanto, não há perspectivas de o atual governo resolver o problema. O secretário de Meio Ambiente, André Corrêa, disse que está realizando uma auditagem de todos os projetos com recursos do Fecam já aprovados.
Segundo ele, não é possível ainda concluir se o problema do lixão terá prioridade. Além disso, Corrêa diz que, por conta do ajuste financeiro do Estado, não é possível ainda acabar com o sistema de caixa único, para destinar todos o recursos do Fecam para os projetos ambientais.



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