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TRANSPORTE
Extrato do FGTS indicava que funcionária ocupava cargo de direção; polícia investiga fraudes em empresas de ônibus
Sem saber, cobradora vira diretora de viação
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma cobradora de ônibus, com
salário bruto de cerca de R$ 650
mensais, teve uma surpresa ao solicitar um extrato de sua conta do
FGTS: descobriu que, apesar de
seus rendimentos, era diretora da
empresa para a qual trabalhava e,
portanto, não tinha direito a depósitos em sua conta.
O fato aconteceu em julho do
ano passado com Jacqueline Lima
Santos, 35. Dois meses depois, ela
verificou que, pelo mesmo motivo, não tinha recolhimento do
INSS, embora, mensalmente, sofresse descontos de aproximadamente R$ 30 em seu salário para
essa finalidade.
A cobradora foi admitida pela
viação Santa Madalena em abril
de 2001, embora só tenha sido registrada em julho do mesmo ano.
Um ano depois, segundo Jacqueline, ela pediu para mudar de horário porque pretendia fazer um
curso de auxiliar de enfermagem,
mas, ainda segundo a cobradora,
a empresa não autorizou.
Decepcionada com a negativa,
ela resolveu verificar quanto tinha
de fundo de garantia para ver se
era possível fazer uma negociação
para ser demitida. "Quando puxei
o extrato veio a informação de
que não tinha nada."
Jacqueline, então, procurou a
direção da empresa. "Eles disseram que havia um erro e que
iriam corrigir." De fato, a partir de
agosto a viação passou a depositar
em sua conta do FGTS.
Porém, em setembro ela também descobriu que a empresa não
repassava o dinheiro que lhe era
descontado do INSS. "Novamente procurei a empresa, em outubro, mas disseram que acertariam
depois."
Em novembro, a funcionária foi
demitida. Jacqueline entrou com
uma ação contra a Santa Madalena, cuja razão social foi alterada,
em dezembro de 1998, para Oak
Tree. A primeira audiência está
marcada para abril.
De acordo com o sindicato dos
motoristas e cobradores de ônibus, a empresa acumula dívidas
de cerca de R$ 7 milhões com o
INSS e R$ 144 mil com o FGTS.
O diretor de garagem pelo sindicato, Narcísio Ozório, afirmou
que a empresa tem cerca de 650
funcionários e uma frota operacional de 650 ônibus. Ninguém na
empresa foi encontrado para falar
sobre o assunto.
Para especialistas em tributos, a
prática de colocar funcionário como diretor para não pagar benefícios pode configurar apropriação
indébita.
De acordo com Luiz Antonio
Miretti, da Comissão de Estudos
dos Direitos do Contribuinte da
OAB, "em tese, uma ação como
essa pode caracterizar fraude".
Miretti, porém, faz questão de diferenciar o sonegador -aquele
que cria artimanhas para não pagar os impostos- do inadimplente -quem não consegue pagar suas dívidas.
A presidente da Associação
Paulista dos Fiscais de Contribuição Previdenciária (Apafisp), Assunta di Dea Bergamasco, afirmou que "muitas vezes as empresas usam desse expediente para
não pagar os tributos". Ela disse
que há dificuldade em fiscalizar
porque há cerca de 800 mil empresas no Estado, mas apenas
1.421 auditores.
Desde a semana passada, a polícia vem investigando supostas
fraudes praticadas por empresas
de ônibus. No último domingo,
por exemplo, a Folha revelou que
a Parque Ibirapuera Transportes,
que atua na capital, foi vendida,
em novembro do ano passado,
para dois novos sócios, um dos
quais um ex-fiscal da empresa
que morava de aluguel em Carapicuíba, na Grande São Paulo.
A polícia também investiga a
venda de outra viação, a Cidade
Tiradentes, para uma pessoa que
morrera seis meses antes de a
transação comercial acontecer.
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