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Sequestrada, médica tem pulso cortado e é obrigada a pular de ponte a 15 metros
LÍVIA SAMPAIO
DO "AGORA"
Uma médica vítima de um
seqüestro relâmpago dirigiu
três horas ameaçada por um estilete, teve os pulsos cortados,
foi empurrada de uma ponte a
15 m de altura e, embora não
soubesse nadar, ficou sete horas imersa no rio Paraíba do
Sul, em Taubaté (140 km de São
Paulo), agarrada ao mato para
não se afogar -foi salva porque
dois jovens a ouviram gritar.
O crime foi entre a noite da
última quinta-feira e a manhã
de sexta. Bruna (nome fictício),
49, foi abordada por dois homens ao sair de uma farmácia
-um deles tinha uma faca. Ela
entrava no carro, um Fiat Uno.
O veículo acabou não sendo
roubado -os criminosos fugiram com R$ 200.
Antes de os criminosos escaparem, Bruna teve que dirigir
pela rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, que liga Taubaté
a Campos do Jordão. No km 7,
na altura de uma ponte, foi
obrigada a descer. A ordem dos
ladrões: que ela pulasse no rio.
"Um deles falou: "Pula!'" disse a médica ontem. Ela tentou
resistir, implorou, mas não
conseguiu demovê-los. Por fim,
agarrou-se a um guard-rail.
"Tentei impedi-lo, mas senti
que ele me empurrou." Para ela
cair, cortaram-lhe os pulsos -a
médica levou nove pontos.
Os ladrões fugiram a pé. Começou, aí, outro tormento para
Bruna. Sem saber nadar, ela se
agarrou à vegetação assim que
caiu no rio. "Em alguns momentos, sentia meu coração bater fraco, muitas câimbras e
soltava um pouco a mão da
planta [em que estava agarrada]. Pensava que poderia não
sair dali", afirmou.
O dia já havia amanhecido
quando ela conseguiu firmar a
mão em um galho, no leito do
rio, e gritar por socorro. Dois
rapazes que passavam de bicicleta a escutaram -eles chamaram, então, os bombeiros, que a
levaram para um hospital.
Bruna não consegue entender a razão da crueldade dos ladrões. Segundo a médica, a dupla de assaltantes era bem jovem e aparentava estar sob
efeito de drogas. "Eles não sabiam o que fazer, só ficavam rodando em bairros periféricos.
Mas nunca, nunca mesmo,
imaginei que me mandariam
pular dentro do rio. Até então,
estava tranqüila. Não reagi, não
buzinei, não ameacei", relata.
Ela ainda não faz planos para o
futuro. "Vou deixar para pensar
nisso na semana que vem."
Remédios
Desde o seqüestro relâmpago, Bruna dorme à base de remédios. "Acordo à noite e as
imagens voltam à minha cabeça, principalmente o momento
em que eu estava na água."
Ela foi para Taubaté em 1991
-antes, vivia em São Paulo com
o marido, também de 49 anos.
O casal não tem filhos.
Católica praticante e devota
de São José, a médica mantém
um altar para orações em casa.
"O padre pediu para que eu rezasse por eles [os assaltantes],
mas ainda não consegui. Gostaria de não encontrá-los", disse.
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