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Universidades pedem apoio do BNDES
Setor quer uma linha especial de financiamento, com recursos públicos e condições melhores que as praticadas hoje
Para o consultor em ensino superior Carlos Monteiro, as instituições passam por dificuldades porque não conseguiram se estruturar
FÁBIO TAKAHASHI
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamento feito pelo sindicato das universidades privadas de São Paulo aponta que
41,5% das instituições terão um
volume menor de novos alunos
(ingressantes) neste ano em relação ao ano passado. Segundo
a entidade, a redução é reflexo
da crise econômica.
Será a primeira vez desde
1996 que as escolas privadas do
Estado sofrerão tal redução, se
for confirmada a diminuição (a
ser oficializada com a tabulação
do Ministério da Educação).
"Nosso alunado é formado
em sua maioria de aluno-trabalhador. Em qualquer problema
de desemprego, dele ou de algum integrante da família, ele
desiste do curso superior", afirma o presidente do Semesp
(sindicato das instituições particulares), Hermes Figueiredo.
De acordo com o IBGE, o número de desempregados na região metropolitana de São Paulo aumentou 32% entre dezembro e janeiro.
A pesquisa do Semesp foi respondida por 266 instituições,
69,5% do total de São Paulo.
Apenas 26,8% afirmaram que
terão mais ingressos neste ano.
"A redução é preocupante.
Menos alunos hoje significa
menos alunos por quatro ou
cinco anos [duração dos cursos]", disse o pesquisador Oscar Hipólito, do Instituto Lobo
e ex-diretor do Instituto de Física da USP de São Carlos.
"A diminuição [dos novos
alunos] desestrutura a instituição, pois muitos dos gastos são
constantes. E, ao tentar cortar
as despesas, pode haver perda
de qualidade. Muitas, por
exemplo, mandam embora os
professores mais preparados,
que têm melhores salários."
BNDES
Para tentar atenuar os efeitos
da crise, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino
Superior Particular solicitou ao
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) uma linha especial de financiamento, com recursos
públicos, para a área.
As instituições pedem recursos com taxas menores do que
as do mercado, tanto para capital de giro (manutenção dos
cursos) quanto para investimento (ampliação e modernização da infraestrutura).
O banco já possui uma linha
para financiar o investimento,
mas o fórum pleiteia condições
melhores. Já a linha para capital de giro seria inédita.
Segundo Hermes Figueiredo,
o presidente do Semesp, desde
que começou a crise econômica, no final do ano passado, as
universidades têm encontrado
dificuldade para fazer empréstimos bancários. E, quando
conseguem, afirma, as taxas estão altas (foram de uma média
de 1,5% ao mês no ano passado
para 2% a 3% neste ano).
"Estamos com menos alunos, menos crédito e a inadimplência subindo. Precisamos de
recursos para evitar, por exemplo, demissão de professores."
O banco não se manifestou
ontem sobre a solicitação das
universidades privadas.
"Falta de qualidade"
Antes mesmo da crise econômica, o ensino superior já passava por dificuldades pelo fato
de o número de vagas ter crescido nos últimos anos muito
mais que a demanda.
Entre os anos de 1997 e 2007,
o número de instituições de ensino superior privadas do Estado passou de 266 para 496 (aumento de 86,5%).
Já o total de alunos no ensino
médio teve queda -de 1,8 milhão para 1,7 milhão.
Para Carlos Monteiro, consultor em ensino superior, o setor passa por dificuldades porque não conseguiu se estruturar para permitir a permanência nas salas de aula da classe C,
público disputado hoje por
muitos cursos de graduação.
"A falta de qualidade em muitas instituições afasta o aluno.
Um problema maior é a falta de
opções de financiamento para
quem tem dificuldade para pagar os estudos. São problemas
estruturais. A crise financeira é
apenas mais um problema."
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