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À espera de UTI, 49 morreram no Maranhão
Todas as pessoas, mortas em 2009, tinham decisão judicial exigindo a internação em leitos públicos; entre elas, havia 43 crianças
Só neste ano, outras 15 crianças e 2 adultos morreram na mesma situação; governo diz que não cumpre as decisões porque não há vagas
ESTELITA HASS CARAZZAI
JEAN-PHILIP STRUCK
DA AGÊNCIA FOLHA
Quarenta e nove pessoas
morreram -entre elas 43
crianças- enquanto aguardavam vagas em UTIs de hospitais de Imperatriz (MA) no ano
passado, segundo o Ministério
Público do Estado. Todas tinham decisão judicial exigindo
a internação em leitos bancados pelo poder público.
Apenas neste ano, outras 15
crianças morreram na mesma
situação -tinham a ordem do
juiz para serem internadas em
leitos de UTI na cidade-, além
de dois adultos, segundo a Promotoria. Até ontem, seis pacientes esperavam internação.
A Promotoria diz, no entanto, que o número de mortes pode ser ainda maior, pois o levantamento considera apenas
casos de vítimas que tinham
decisão judicial favorável.
Para tentar resolver o problema, o Ministério Público recomendou à prefeitura e ao governo estadual a implementação emergencial de novos leitos
de UTIs em 120 dias.
Um levantamento da promotora Aline Matos Pires apontou
que Imperatriz conta com apenas 41 leitos de UTI nos hospitais públicos e na rede conveniada. Nenhum hospital municipal da cidade conta com UTI.
Seriam necessários 120 leitos,
segundo o Ministério da Saúde.
Para a Promotoria, o número
de leitos em funcionamento é
ainda menor. No Hospital Municipal de Imperatriz, que tem
dez leitos, só quatro estão funcionando normalmente.
A cidade também não tem
leito público de UTI infantil. As
crianças que precisam de tratamento intensivo recorrem a 20
leitos em hospitais privados
que custam R$ 600 mil por mês
ao Estado, mas só em torno de
oito funcionam porque o dinheiro não é suficiente para pagar os custos de cada leito. Pior:
a promotora diz nem conseguir
fiscalizar se os hospitais cumprem todos os procedimentos.
"Essa situação está bem caótica. Vem gente de mais de 40
cidades, inclusive do Pará e Tocantins. Daqui a pouco a gente
está escolhendo quem vai viver", diz a promotora.
O Ministério Público requisitou um levantamento na rede
particular para saber quantos
leitos estão disponíveis para os
pacientes à espera de UTI.
Segundo a Promotoria e o
Conselho Tutelar, muitas
crianças ficam nas enfermarias
dos hospitais aguardando liberação dos leitos e recebendo
oxigênio bombeado por respiradores operados manualmente por enfermeiros ou pelos
próprios parentes das crianças.
Além dos problemas no atendimento infantil no Hospital
Municipal, segundo a Promotoria, a falta de leitos de UTIs se
repete em relação aos idosos.
Na quarta-feira a Suvisa (Superintendência de Vigilância
Sanitária do Maranhão) realizou uma inspeção no Hospital
Municipal de Imperatriz para
apurar uma denúncia encaminhada à Promotoria sobre um
foco de infecção na UTI. A
agência constatou que o foco
estava controlado, mas fez recomendações sobre procedimentos inadequados. A Promotoria determinou que o hospital coloque as recomendações em prática em 20 dias.
Outro lado
O governo do Maranhão alega que não cumpre as decisões
porque não há vagas. Ontem e
anteontem, a Folha ligou para
a Secretaria de Saúde de Imperatriz, mas não conseguiu contato com os responsáveis.
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