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Casal Nardoni nega crime, mas se contradiz
Anna Jatobá e Alexandre Nardoni choram ao depor; pai diz agora que não trancou a porta do apartamento ao deixar Isabella no quarto
O JULGAMENTO do caso Isabella deverá
chegar ao fim hoje com debate entre promotor e advogado de defesa, votos dos setes jurados e, por fim, a sentença do juiz.
Ontem, a quarta sessão teve tensões à altura da repercussão do caso, com muitas críticas e ironias entre
acusação e defesa, repreensões do juiz contra os dois
lados e, do lado de fora do Fórum de Santana, tumulto
e vaias para os réus Alexandre Nardoni, 31, e Anna Carolina Jatobá, 26, pai e madrasta da menina arremessada do 6º andar aos cinco anos de idade, em março de
2008. Em depoimento, os dois voltaram a jurar inocência, mas mostraram contradições entre o que dizem agora e o que relataram à polícia na investigação.
Sem confissão ou testemunha na cena do crime, a
acusação aposta nos depoimentos e na perícia. O defensor Roberto Podval voltou a dizer ontem que a absolvição é difícil, mas que mantém as esperanças.
TALITA BEDINELLI
AFONSO BENITES
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia mais esperado do julgamento de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, os
dois voltaram a negar que tenham matado Isabella, referiram-se à menina com palavras
carinhosas, como "Isa", e choraram. Mas, por algumas vezes,
caíram em contradição.
Em depoimento de quase
cinco horas, Alexandre deu
uma versão, até então inédita,
do momento em que olhou pela
janela do prédio onde morava e
viu que Isabella -morta em
março de 2008, após ser esganada e jogada do sexto andar-
estava lá embaixo. Ele disse
que, ao olhar pela tela cortada,
segurava um de seus filhos, que
na época tinha três anos.
Anteontem, a perita Rosângela Monteiro disse que as marcas na camiseta de Alexandre
só poderiam ser produzidas por
uma pessoa que segurasse um
peso de 25 kg, equivalente ao de
Isabella. Isso, para ela, é uma
das principais provas de que o
pai arremessou a filha.
Ao contrário do que registra
o relatório de seu depoimento à
polícia, Alexandre também
afirmou que, na noite do crime,
não trancou a porta do apartamento ao deixar Isabella no
quarto e voltar para buscar os
filhos no carro. Ele dizia inicialmente que tinha trancado e alguém devia ter a cópia da chave
do apartamento. Mas Anna Jatobá disse ontem que viu Alexandre destrancar a porta
quando voltou ao apartamento.
O acusado também disse que
na noite do crime não relatou
que havia ladrão no apartamento. "O que falei é que tinha
alguém no prédio", disse ele.
Anteontem, no entanto, a delegada que investigou o caso,
Renata Pontes, afirmou que
Nardoni perguntou a ela se a
polícia já havia achado o ladrão.
Nardoni parecia calmo no
depoimento. Falou pausadamente e respondeu às perguntas de maneira firme. Ao ver a
mãe no plenário pela primeira
vez, chorou. Em pelo menos 30
ocasiões, respondeu aos questionamentos da Promotoria
com a frase: "Não me recordo".
O interrogatório de Jatobá
chamou a atenção pela forma
acelerada com que ela falava.
Por mais de dez vezes, num intervalo de uma hora, o juiz
Maurício Fossen pediu a ela que
desse uma pausa em sua fala,
para que os taquígrafos não se
perdessem. Podval pediu-lhe
que respirasse fundo e ela riu.
Jatobá disse que exagerou no
passado ao registrar boletins de
ocorrência que denunciavam
seu próprio pai, Alexandre Jatobá, por agredi-la. "Muitas coisas eu acabei aumentando."
O advogado Roberto Podval
afirmou que as contradições
são pequenas e que não devem
influenciar na decisão do júri.
Ele disse ainda que entrou em
uma causa perdida, mas tinha
esperança de inocentar o casal.
O julgamento deve acabar
hoje. Os jurados deverão tomar
a decisão após os debates entre
o promotor e os advogados, que
podem durar até nove horas. A
PM vai reforçar a segurança no
Fórum de Santana para evitar
agressões, como a que ocorreu
com o advogado Podval.
Colaboraram o "Agora" e a Folha Online
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