São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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Defesa e acusação apelam para ironia e ofensa

Clima arrastado dos primeiros dias de julgamento deu lugar ao mais tenso embate entre promotor e advogado de defesa

O defensor interrompeu o promotor Cembranelli insistentemente; irritado, juiz ameaçou retirar direito de os dois perguntarem

Caio Guatelli/Folha Imagem
Pessoas vaiam advogado de defesa do casal Nardoni, Roberto Podval, na sua saída do Fórum de Santana, na zona norte de São Paulo, na noite de ontem

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

O clima arrastado dos primeiro dias do julgamento do caso Isabella deu lugar ao mais tenso embate entre a acusação e defesa. Durante o interrogatório dos réus, o promotor Francisco Cembranelli e o advogado Roberto Podval discutiram e trocaram críticas e ironias.
Em pelo menos dez ocasiões, o defensor interrompeu o promotor, pedindo para que ele citasse o número da página do processo na qual estava a informação a que ele se referia.
Na primeira vez em que foi interrompido, Cembranelli disse que o advogado não tinha estudado o caso. "Não aceito ser maltratado. Eu li o processo. Só quero que o senhor faça o que manda a lei", disse Podval.
O juiz Maurício Fossen acatou o pedido da defesa, alegando que a legislação obriga que, sempre que for comentado algo que já consta do processo, o promotor deve citar o número da página onde está o relato.
No início, no entanto, Cembranelli não seguiu a orientação. Por isso, foi indagado outras nove vezes por Podval.
Em uma delas, o promotor reclamou: "Se eu não puder desenvolver meu raciocínio toda hora em que eu começar uma pergunta, o réu poderá pensar antes de responder". "Só quero que o senhor faça sua obrigação", rebateu o defensor.
Em outra interrupção, Cembranelli se dirigiu a Nardoni e ironizou: "Vai pensando aí...". Podval bateu na mesa e disse rispidamente: "Primeiro cite as páginas, depois faça as perguntas. Não faça teatro aqui".
Irritado com as discussões, o juiz ameaçou retirar o direito dos dois fazerem perguntas, o que acabou não sendo feito.

Primeira discussão
Anteontem, Cembranelli lia um depoimento sobre a presença de PMs em uma obra vizinha ao edifício London, quando foi interrompido por Podval, que queria saber o motivo da leitura. "O senhor pode deixar eu acabar de fazer a pergunta, ou está temendo alguma coisa?", disse o promotor.
Ao fim do segundo dia de júri, o promotor não concordava com a manutenção de Ana Carolina Oliveira isolada para uma possível acareação. Depois de dizer que Ana Carolina cumpria prisão temporária, pediu que a defesa recuperasse "o bom senso que lhe falta".
Quando Alexandre Nardoni disse que sua cabeça não passava pelo buraco da rede de proteção por onde Isabella passou, Cembranelli perguntou: "Sua cabeça tem mais de meio metro?". O juiz o repreendeu: "Doutor, faça perguntas objetivas." E Nardoni: "Eu nunca medi a minha cabeça". Cembranelli: "Pergunto isso porque o buraco era de 47 cm. O senhor sabia disso?". Nardoni: "Não, eu não sou perito. Quando eu me aproximei da janela eu estava com o meu filho no colo".


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