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ANÁLISE
Julgar ou ser julgado é muito perigoso
LUIS FRANCISCO CARVALHO FILHO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Quem são as sete pessoas
responsáveis pelo destino de
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá? Quatro mulheres e três homens. É só. De onde são, o que fazem, o que pensam? Vivenciaram alguma situação capaz de influenciar a
decisão a favor de um ou outro
lado? Ninguém sabe.
Há entre eles algum habitante de uma das favelas da região
de Santana -bairro de maior
verticalização e valorização de
São Paulo nos últimos tempos?
Provavelmente não. Favelados
costumam conhecer filas de
hospital e o setor de visita de
penitenciárias.
São filhos, noras ou genros,
enfim, herdeiros culturais das
Senhoras de Santana, mulheres
que se notabilizaram na década
de 80 pelas manifestações a favor da censura e contra a permissividade das novelas da Rede Globo?
São habitantes típicos da
classe média de Santana, acostumados a cruzar indiferentes
um dos mais sujos rios do mundo e, durante muito tempo,
passar diante do mais insalubre
presídio do planeta, hoje transformado em parque e biblioteca hi-tech, para chegar em casa? São funcionários públicos?
Há entre eles parentes de policiais que, apesar do salário
modesto, têm carros importados e registrados em nome de
terceiros? São pessoas com
sentimento igual aos das que se
acotovelam na porta do fórum
em busca de uma senha para
estar na mesma plateia que
Gloria Perez, também vítima
de uma tragédia criminal e escritora de novelas da Globo, outrora combatidas pelas Senhoras de Santana?
Espetáculo. É o julgamento
do ano, e o ano ainda está no começo. Empurra-empurra de
jornalistas. Comoção. Pelo menos uma lágrima verteu dos
olhos de uma das juradas, emocionada com o depoimento da
mãe da criança morta, mulher
que, para a indignação do público solidário, permaneceu durante dias em uma espécie de
cativeiro imposto pela defesa.
Peritos mostram detalhes de
um caso que não tem testemunha presencial. Mistério. Gotas
de sangue. Sinais de estrangulamento. Fiapos de rede. Tesoura. Camisetas. Maquete. O
defensor hostilizado por populares. Especialistas explicam
procedimentos, falas, expectativas. O Twitter bombando na
internet.
Sem fórmula
Há quem defenda o júri porque os julgamentos são feitos
por pessoas iguais. Há quem
combata o júri justamente porque os julgamentos são feitos
por pessoas iguais. Iguais a
quem? Um juiz ou uma juíza de
verdade estariam mais equidistantes do que as sete pessoas
desconhecidas e recrutadas sabe-se lá de onde? Sua atuação
não poderia também estar contaminada pelo clamor? Um juiz
de direito também não poderia
ser herdeiro das Senhoras de
Santana? Não há fórmula para
um julgamento perfeito.
Ninguém sabe quem são os
jurados. É estranho. Querem
protegê-los. Mas protegê-los de
quê? Não parece razoável que,
em um ambiente de revelação
total, a identidade dos julgadores permaneça oculta. Qual é o
universo desse sorteio? São
mesmo representativos da sociedade? Defesa e acusação conhecem seus nomes, suas profissões, a idade, mas é suficiente? Conhecem sua vida, suas
dores, seus ideais? Julgar ou ser
julgado é perigoso. Muito perigoso.
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