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Negros reivindicam cotas em programas habitacionais
DA ENVIADA A NOVA IGUAÇU
Cotas para negros, títulos de
posse para gays e lésbicas, educação ambiental e reciclagem de lixo. A agenda dos movimentos
populares de moradia já não se
contenta apenas com a obtenção
do título de propriedade.
Ainda é difícil. Quando, no sábado, apareceu a proposta do
grupo "Negritude" -"que os
programas habitacionais dos governos federal, estaduais e municipais incluam o sistema de cotas
para negros em 40%"-, foi uma
pancadaria. Cinco pessoas se inscreveram para contestar.
Levantou-se o representante da
Bahia: "Como 40%? Na Bahia, nós
somos 80% da população. E agora
vamos ter apenas 40% das casas
que conquistarmos?" Ele mesmo
explicava: "Defender cotas nas
universidades até se entende. É
um espaço de brancos. Mas moradia popular é coisa para a população pobre. Nessa área, nós já somos maioria. Não temos de disputar espaço". Discussão feita, a
formulação final do encontro exige "um mínimo de 40% de negros
nos programas habitacionais".
Outra demonstração de que as
coisas vêm mudando foi a presença franca de gays e lésbicas na discussão de gênero. "Por que só famílias com homem, mulher e
crianças têm o direito a ocupar,
resistir, construir e ter um título
de posse?", perguntava uma militante do movimento, defendendo
que duplas de mulheres e de homens que vivam maritalmente tenham o direito a uma casa. Venceu uma formulação bem mais
branda: "As (os) solteiras (os) têm
direito à moradia".
A pauta "politicamente correta"
do encontro nacional topa também com demandas bem mais
dramáticas: no grupo de juventude, por exemplo, uma das principais preocupações refere-se ao
que os sem-teto chamam de pós-moradia. "Há meninos que passaram a vida morando em cortiços,
favelas e mesmo na rua. Eles precisam ser educados sobre como
respeitar o patrimônio coletivo,
têm de aprender a conviver", explicou uma militante. Aplausos.
O pós-moradia é o terror dos
movimentos. "Invadir é a coisa
mais fácil do mundo. Depois que
a coisa está pronta é que o bicho
pega", afirma um dirigente. Alcoolismo, drogas, depredações,
maridos batendo em mulheres,
desrespeito aos mais velhos ou
simples falta de educação são
pontos sensíveis. Por isso, todos
os grupos temáticos insistiram na
necessidade de "educar" os militantes para a nova vida.
(LC)
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