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EDUCAÇÃO
Da primeira à quarta série, taxa de reprovação no Brasil chega a 21%, segundo estudo divulgado pela Unesco
País tem repetência maior que a do Camboja
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Considerada um dos principais
indicadores de qualidade na educação, a taxa de repetência no ensino primário (primeira a quarta
série) no Brasil é pior do que a do
Camboja e equivalente às de Moçambique e Eritréia. É o que
aponta uma pesquisa divulgada
ontem pela Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Em uma das seções do estudo,
que aborda a qualidade da educação em todo o mundo, a entidade
considerou os 45 países cujos índices de repetência são superiores
a 10%. O Brasil, com taxa de 21%
(a pesquisa usa como base o ano
de 2002), tem situação melhor
apenas que 15 países, a maioria da
África. O Camboja, por exemplo,
tem 11%. Já o Haiti, 16%, e Ruanda, 19%. No Chile, o índice é de
2%, e na Argentina, 6%.
A taxa de repetência no Brasil
(21%) se assemelha às de Moçambique e Eritréia, que possuem,
respectivamente, o 168º e o 161º
IDH (índice que mede o desenvolvimento humano em todo o
mundo). Essa lista tem 177 países
-e o Brasil é o 63º.
Segundo o estudo, a repetência
reflete "condições insatisfatórias
de ensino e de aprendizagem".
Para Célio da Cunha, assessor
para a área da educação da Unesco no Brasil, uma das explicações
para o alto índice de fracasso é a
falta de condições para o professor. "Eles não estão preparados
para ensinar alunos com dificuldades socioeconômicas."
Cunha afirma que a repetência,
"além de ser prejudicial ao sistema, acaba com a auto-estima do
estudante". Segundo ele, "a situação melhorou um pouco nos últimos anos, mas ainda é o principal
desafio da educação no país".
Pesquisa feita pela PUC-RJ, com
base no Saeb 2001 (sistema nacional de avaliação da educação básica), mostra que o repetente tem,
em língua portuguesa, uma nota
20% menor na quarta série.
"Na prática, o que acontece na
maioria das vezes é que a escola
afirma que a culpa de não aprender é do aluno. Mas não diz que é
o ensino que vai mal", diz Vitor
Henrique Paro, professor da Faculdade de Educação da USP e autor do livro "Reprovação Escolar:
Renúncia à Educação".
Robison dos Santos Martins, 12,
por exemplo, foi reprovado na
quarta série duas vezes -uma
por ter sofrido acidente que o impossibilitou de fazer a prova final
e outra, na opinião da professora,
"por não querer nada da vida".
Para o estudante, a reprovação
significou mais do que a perda de
um ano letivo. "Foi ruim, porque
deixei vários amigos para trás."
"Ele ficou bem desanimado de
fazer a mesma coisa três vezes",
afirmou a mãe de Robison, Antônia Maria dos Santos, 36.
A alta taxa de repetência é ainda
mais significativa pelo fato de algumas redes públicas -como
São Paulo e Minas Gerais- terem
aderido ao sistema de progressão
continuada, em que o aluno só repete ao final de cada ciclo (no primário, vai até a quarta série). Segundo dados do MEC (Ministério
da Educação), cerca de 20% dos
alunos matriculados na educação
fundamental estão nesse sistema.
Sobre a alta taxa de repetência
no país, o MEC afirmou que possui programas de gestão escolar, o
que melhorará a qualidade do ensino no país. Segundo o ministério, esses programas servem como indutores em toda a rede de
ensino, pois Estados e municípios
são os responsáveis diretos pela
educação fundamental.
A pasta cita ainda a ampliação
do ensino fundamental de oito
para nove anos, aprovada no início deste ano. A medida é benéfica
por iniciar o aluno mais cedo na
escola, agora aos seis anos -antes era aos sete. Isso, dizem especialistas, facilita a aprendizagem.
Outro fator apontado pelo MEC
é o Fundeb, novo fundo da educação básica, que está no Senado. Se
aprovado, o fundo custeará o ensino infantil -hoje, apenas o ensino fundamental é financiado
por um fundo nacional.
Colaborou SIMONE HARNIK, da Reportagem Local
Veja a lista completa da Unesco na www.folha.com.br/061152
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