|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Barra do Chapéu tem melhor 4ª série do país
DANIELA TÓFOLI
ENVIADA ESPECIAL A BARRA
DO CHAPÉU (SP)
Encravada no Vale do Ribeira, região mais pobre do Estado, a pequena Barra do Chapéu
(370 km de SP) conseguiu o título de melhor quarta série do
país por meio do acompanhamento integral dos alunos, turmas pequenas, serviço de reforço, tira-dúvidas e investimento
em leitura e escrita.
Com cerca de 4.900 habitantes, só 24 ruas asfaltadas e renda baseada na agricultura, o
município obteve média 6,8 no
Ideb. A média nacional, como
comparação, é de 3,81. A quarta
série é formada por filhos de famílias humildes, muitos com
pais analfabetos.
A rede municipal da cidade,
com 680 alunos, é enxuta: há
apenas uma escola de 1ª à 4ª série -a Leonor Mendes de Barros, que tem mais seis unidades
espalhadas na área rural, algumas dentro de escolas estaduais. Uma diretora e uma
coordenadora pedagógica cuidam de todas, que seguem a
mesma metodologia.
O olhar atento dos educadores, porém, é apenas uma das
dezenas de explicações para o
sucesso de Barra do Chapéu.
Na Leonor e suas "filiais", a média é de 25 alunos por classe, o
que permite aos professores
acompanhar cada um.
Além disso, o mesmo docente fica com a mesma turma da
segunda até a quarta série e o
material é preparado pela equipe da escola.
A meta do colégio é fazê-los
tomar gosto pela leitura e pela
escrita. "No fim da primeira série, todo mundo aqui tem de saber ler e escrever", diz Nilza Ribas, coordenadora pedagógica.
Uma tática é trabalhar a reescrita: pega-se um texto com erros de um aluno e todos da sala
o reescrevem corretamente.
Avaliações constantes
Os alunos são avaliados a cada 15 dias por suas professoras
e bimestralmente pela direção.
Os que apresentam dificuldades recorrentes, que não estão
sendo solucionadas na classe,
são encaminhados para o reforço -dentro do período de aula,
de cinco horas diárias. Lá, uma
professora trabalha com estudantes de várias idades, com recursos diferentes do da aula
normal, como jogos de palavras, entre outros.
Foi assim que Gabriel resolveu seu problema: toda vez que
ele ouvia palavras como manta,
santo ou tanta, sua cabeça dava
um nó. Aos 10 anos, na quarta
série, ele ainda se confundia
com a forma de escrevê-las. Vira-e-mexe, grafava "mãota,
sãoto ou tãota". Assim que percebeu a dificuldade dele, sua
professora o encaminhou para
as oficinas de reforço. Agora,
ele não erra mais.
Segundo a coordenadora pedagógica, fazer o aluno avançar
de série com a certeza de que
assimilou o conteúdo ensinado
é essencial na cidade. "Adotamos a progressão continuada
mas os meninos não mudam de
série sem aprender", diz Nilva.
"E, se no fim da quarta série,
ainda tiver com algum problema, a gente retém." No ano passado, foram quatro reprovações na quarta série.
Os aprovados seguem para a
quinta série, na Escola Estadual Paulo Francisco de Assis,
que fica do outro lado da rua. Lá
a realidade é diferente. Com
média 4,1 no Ideb (o que a coloca na 623ª posição), a rede estadual da cidade tem cerca de 40
alunos por sala. "Fica difícil fazer um trabalho tão individualizado aqui", afirma o diretor,
Valderi Luiz Vidal Cézar. "Apesar de termos ensino integral
[são 9h diárias de aula], precisaríamos de mais professores
para o trabalho render mais."
Texto Anterior: Antes de liberar verbas, MEC irá reanalisar dados Próximo Texto: Professores realizam protestos pelo país Índice
|