São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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MATERNIDADE

Ela conta que, nas consultas, os únicos procedimentos médicos eram a verificação da pressão e a pesagem

"Não me explicavam nada", afirma mãe

DA SUCURSAL DO RIO

Reni Pereira Mateus, 29, negra, só conseguiu ser bem atendida na segunda gravidez. Na primeira gestação, ela se consultou e fez exame pré-natal em dois hospitais públicos e chegou a procurar uma clínica particular. Afirma ter sofrido preconceito nos três.
Ela conta que, durante as consultas, os únicos procedimentos médicos eram a verificação da pressão arterial e a pesagem. Medição do tamanho do útero, do peso do bebê, explicações sobre alimentação, aleitamento materno e cuidados com o recém-nascido, Reni só soube o que eram quando estava esperando Thaiane, a segunda filha, que tem um mês de vida.
"Todos os médicos que me atenderam pareciam estar sempre com pressa. Não me explicavam nada nem me atendiam direito", contou.
"No começo achei que era porque tinha muita gente para ser atendida. Depois pensei que era por eu ser pobre. Mas reparei que as consultas das mulheres brancas, mesmo as das mais pobres, eram bem mais demoradas e que elas sempre saíam da sala do médico com algum papel de exame. Eu nunca saí com um papel de exame", reclama Reni.
Na segunda gravidez, finalmente conseguiu um bom tratamento. Fez nove exames de pré-natal, assistiu a palestras e recebeu explicações para todas as dúvidas.
Érika Cristina Gonçalves, 22, também negra, mesmo não tendo uma gravidez de risco, decidiu procurar o Instituto Fernandes Figueira, especializado nesse tipo de gestação, por ouvir histórias de preconceito em outros hospitais e maternidades. "Já tinha ouvido falar de mulheres que não tinham sido bem atendidas pelos médicos por serem negras. Então, decidi não arriscar".
Ela fez todas as consultas mensais necessárias à gravidez e exigiu dos médicos os exames importantes para acompanhar o desenvolvimento do bebê. "Fiquei atenta, pedi tudo o que sabia que era importante e perguntei sobre os cuidados que tenho que ter com o meu filho." Na hora do parto normal, entretanto, Érika não recebeu anestesia.
"Hoje, é um absurdo fazer parto normal numa mulher sem lhe dar anestesia. É obrigá-la a um sofrimento desnecessário", afirmou a pesquisadora Silvana Granado.
Lucileide da Rocha Mendes, 18, branca, é o exemplo do bom atendimento. Seu filho Deivison, de um mês, nasceu de parto normal, feito com anestesia.
Antes do parto, Lucileide passou por nove exames, quando teve o útero medido, o batimento cardíaco do bebê auscultado e o peso dela e do neném acompanhados. Também recebeu respostas para todas as perguntas.
"Antes do pré-natal, assistia às palestras sobre gravidez e cuidados com o recém-nascido e participava de grupos de discussão sobre gravidez na adolescência."
Seu médico ligava de tempos em tempos para a casa dela, para saber como estava a gravidez.

Mulata
Rosângela Domingues Vieira, 32, que se classifica como mulata, é exceção entre as demais gestantes negras entrevistadas. Grávida de oito meses e meio, ela fez exames pré-natais desde o segundo mês, quando soube que estava esperando um filho.
Por causa da idade e por sofrer de pressão alta, ela teve de ser internada no Instituto Fernandes Figueira para aguardar o dia do parto do casal de gêmeos. Diferentemente de muitas outras mulheres na mesma situação, ela pôde ficar com um acompanhante ao seu lado.
"Não tenho do que reclamar. Fui muito bem tratada em todos os exames de pré-natal. Os médicos fizeram tudo o que é preciso, tiraram as minhas dúvidas e me obrigaram a assistir palestras. Depois de internada, meu marido pôde ficar o tempo todo ao meu lado", contou. (SP)


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