São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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Em 24h, o dobro do volume de chuva do mês
Maior precipitação desde 1988 na cidade
6 pessoas mortas no Estado
1ª cheia do Tietê em três anos
59 operações de salvamento de pessoas

São Paulo submersa

DA REPORTAGEM LOCAL

A pior chuva que atingiu São Paulo desde dezembro de 1988 (e a pior num mês de maio desde 1968) parou ontem a maior cidade do país, deixando bairros ilhados, moradores desesperados e motoristas "estacionados" por mais de sete horas nas marginais Pinheiros e Tietê -onde a água do rio voltou a transbordar e a invadir a pista depois de três anos.
O temporal atípico, fora do verão, pegou de surpresa os paulistanos, muitos dos quais tiveram uma antecipação forçada do feriado prolongado e não conseguiram nem mesmo ir ao trabalho.
Quem tentou sair de carro pela manhã ficou parado em engarrafamentos -cenas de motor desligado e banco deitado foram freqüentes. Algumas escolas cancelaram aulas. Serviços de transporte também foram interrompidos.
Os bombeiros fizeram 59 salvamentos de pessoas ilhadas. Algumas improvisavam caiaques, como na Vila Leopoldina (zona oeste). "Foi um tsunami", disse Bob Wolfenson, fotógrafo de famosos que teve seu estúdio inundado e que acabou resgatado num bote.
O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), em 24 horas -da manhã de anteontem à de ontem-, registrou 140,4 mm de chuva na capital. É praticamente duas vezes o que costuma registrar o instituto no mês inteiro -a média em maio é de 66,4 mm. Cada milímetro equivale a um litro por água por metro quadrado.
A capital paulista teve 103 pontos de alagamento simultâneos, a maior quantidade já registrada (no total, incluindo os não-simultâneos, somaram 139 até as 17h).
O CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências, da prefeitura) apontou como as regiões mais afetadas São Mateus, na zona leste, Santo Amaro, na zona sul, e Bom Retiro, no centro.
O temporal mudou não só a vida de quem estava na cidade como a de quem tentava chegar -devido aos congestionamentos que se formaram nas estradas.
No Estado, houve seis mortes por conta da chuva, nenhuma na capital. No Guarujá, duas crianças morreram soterradas. Um tornado atingiu Indaiatuba.
Linhas de trem chegaram a parar, o rodízio foi suspenso e, no terminal rodoviário Tietê, as partidas ficaram interrompidas por sete horas. Mais de 170 linhas de ônibus urbanos foram prejudicadas -levando os passageiros a descer e continuar a pé. O Campo de Marte teve hangares alagados.
Marcos paulistanos, como a Ceagesp, também ficaram debaixo d'água. Um fórum e um tribunal cancelaram os atendimentos.
O transbordamento do rio Tietê evidenciou a incapacidade de as obras de rebaixamento da calha, uma das principais vitrines do governo Geraldo Alckmin (PSDB), resolverem de vez os problemas de inundação nas marginais de São Paulo, vias estratégicas por onde passam 1,1 milhão de veículos diariamente e cujas filas causam impacto na cidade inteira.
O debate sobre responsabilidades chegou a gerar mal-estar entre os tucanos Alckmin e José Serra.
À tarde, a capital voltou a ser alvo de chuva, em menor intensidade. Segundo meteorologistas, não há risco de novos temporais atingirem São Paulo nos próximos dias. A frente fria segue ao norte e pode causar chuvas em Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia.
O presidente em exercício, José Alencar, manifestou "pesar diante da tragédia que se abateu sobre a cidade, causando sérios prejuízos humanos e materiais".


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