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HINDEMBURGO DOBAL TEIXEIRA (1927-2008)
E o verso magro das cabras e carnaúbas
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
São uns 50 por dia os que
se aventuram na paisagem
ressequida de cabras e carnaúbas de H. Dobal, ao menos na biblioteca que com ele
partilha nome e aniversário
em Teresina. Lá sua obra inteira se espreme nas estantes, plena da vida miúda das
agruras do sertão, que então
sobrevive, perene e lírica.
"Esta paisagem morta onde somente vão ruminando
as cabras os seus dias, não se
rumina em mim como lembrança, mas como um sonho
repetindo os dias", escreveu
o poeta de Teresina, advogado como devia, que estreou
na poesia no auge do concretismo, diz um crítico, a despeito da "morte do verso".
O dele viveu de teimoso,
maturado na vida paralela do
homem de números. Hindemburgo Dobal foi do Conselho de Contribuintes, professor de legislação fazendária e técnico do Ministério da
Fazenda. Mas a aridez de
seus versos -publicados
desde 1966 com "O Tempo
Conseqüente"- é outra.
Dele disse Manuel Bandeira, na "Antologia dos Poetas
Bissextos", que só um poeta
ecumênico como Dobal poderia "fixar sua província
com expressão tão exata, ao
mesmo tempo tão fresca e
tão seca, despojada de quaisquer sentimentalidades,
mais rica no sentimento profundo, visceral da terra".
Dobal fez versos translúcidos como o ar do Piauí, traduzindo seu sertão -ao menos o dos verões "de pele seca", sempre "estirada sobre
os ministérios vazios". Morreu quinta, de infarto, aos 80.
obituario@folhasp.com.br
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