São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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HINDEMBURGO DOBAL TEIXEIRA (1927-2008)

E o verso magro das cabras e carnaúbas

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

São uns 50 por dia os que se aventuram na paisagem ressequida de cabras e carnaúbas de H. Dobal, ao menos na biblioteca que com ele partilha nome e aniversário em Teresina. Lá sua obra inteira se espreme nas estantes, plena da vida miúda das agruras do sertão, que então sobrevive, perene e lírica.
"Esta paisagem morta onde somente vão ruminando as cabras os seus dias, não se rumina em mim como lembrança, mas como um sonho repetindo os dias", escreveu o poeta de Teresina, advogado como devia, que estreou na poesia no auge do concretismo, diz um crítico, a despeito da "morte do verso".
O dele viveu de teimoso, maturado na vida paralela do homem de números. Hindemburgo Dobal foi do Conselho de Contribuintes, professor de legislação fazendária e técnico do Ministério da Fazenda. Mas a aridez de seus versos -publicados desde 1966 com "O Tempo Conseqüente"- é outra.
Dele disse Manuel Bandeira, na "Antologia dos Poetas Bissextos", que só um poeta ecumênico como Dobal poderia "fixar sua província com expressão tão exata, ao mesmo tempo tão fresca e tão seca, despojada de quaisquer sentimentalidades, mais rica no sentimento profundo, visceral da terra".
Dobal fez versos translúcidos como o ar do Piauí, traduzindo seu sertão -ao menos o dos verões "de pele seca", sempre "estirada sobre os ministérios vazios". Morreu quinta, de infarto, aos 80.


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