São Paulo, quarta, 26 de maio de 1999

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SAÚDE
Mecanismo de ressarcimento visa evitar corte de 2.500 leitos nos hospitais ameaçados pela perda de isenção
Ministério estuda fórmula para filantrópicas



PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

O ministro José Serra (Saúde) pretende criar um mecanismo de ressarcimento aos hospitais filantrópicos que perderam a isenção da contribuição previdenciária por não atenderem pelo menos 60% de pacientes do SUS.
A lei que alterou o critério da isenção deve gerar um prejuízo de R$ 300 milhões para o sistema de saúde do país, segundo estimativa do ministro. A população, diz ele, corre o risco de perder 2.500 leitos de alta complexidade.
Há 250 hospitais filantrópicos com atendimento de alta complexidade que vão passar a recolher a contribuição previdenciária no país. Essas instituições ameaçam deixar de atender pacientes do SUS porque afirmam não ter condições financeiras de se manter.
Para reverter essa situação, o ministério pretende baixar uma portaria determinando que esses R$ 300 milhões que o sistema estaria perdendo sejam devolvidos aos hospitais.
"A idéia é dar uma contribuição financeira a essas instituições para que consigam manter os atendimentos do SUS."
Mas, para isso, Serra depende de liberação de verba por parte do presidente Fernando Henrique Cardoso. Além desses R$ 300 milhões, Serra afirmou que o presidente garantiu repassar ao Ministério da Saúde os R$ 500 milhões para compensar as perdas com a desvalorização da moeda e os R$ 700 milhões que faltam para pagar os hospitais do SUS até o fim do ano.
"Espero receber esses recursos. Reconheço que é um cobertor curto, mas isso não implica que devemos deixar pessoas desassistidas", diz. "Só peço que os hospitais tenham paciência e não suspendam o atendimento."
Francisco Maturano, da comissão técnica da Federação das Santas Casas do Estado de São Paulo, diz que qualquer recurso é bem-vindo, mas que é preciso uma contribuição permanente.
"A situação das Santas Casas é crítica. Mas o que precisamos mesmo é um aumento de cerca de 30% nos preços da tabela de procedimentos do SUS, o que ajudaria a manter as entidades." Ele acha que essa é a única forma de "premiar" os hospitais que realmente produzem. "Tabela é produção. Quem não atender, não recebe."

Atendimento gratuito
A portaria que o ministro pretende baixar não deve atingir hospitais filantrópicos que oferecem atendimento gratuito à comunidade, mas que não atendem o SUS.
"Não vamos dar recursos do SUS para hospitais que não atendem o SUS. Se quiserem, terão de passar a atender", disse o ministro. "Mas acho uma pena perder o atendimento que esses hospitais fazem."
Segundo ele, antes da criação dessa lei, um grupo de dirigentes de hospitais filantrópicos se reuniu a seu pedido para propor alternativas à lei então vigente.
Essa comissão, entre outras coisas, discutiu a possibilidade de hospitais filantrópicos que não atendiam o SUS passarem a fazer o atendimento.
"Os hospitais se mostraram receptivos à idéia", diz. "Mas aí surgiu a nova lei e a operação foi abortada."
A Folha noticiou recentemente que instituições como o Hospital do Coração, Sírio Libanês e Albert Einstein, entre outros que não atendem SUS, estão reduzindo o atendimento a carentes por conta da perda de isenção (leia abaixo).
Essa situação só poderá se reverter se as entidades passarem a receber pacientes do SUS.



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