São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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PASQUALE CIPRO NETO

"Doleiros intermed(e)iam propina...'

As gramáticas e os dicionários dizem que as exceções ficam por conta dos integrantes do "MARIO"

VÁRIOS LEITORES ESCREVERAM para o e-mail da coluna a respeito de um título publicado pela Folha no último dia 21. Em algumas edições, saiu "intermediam" ("Doleiros intermediam propina da Alstom"); em outras, posteriores, saiu "intermedeiam".
Esse processo (alteração de uma edição para outra) é comum, mais comum do que se pensa. Muitas vezes, o próprio jornal informa aos leitores a execução da alteração.
O interessante é que a maioria reclamou do título com "intermediam", mas houve quem reclamasse do que apresentava a forma "intermedeiam". Cá entre nós, esse caso é mesmo chato, bem enjoado.
Com algumas exceções, no português formal do Brasil os verbos terminados em "-iar" são regulares. As gramáticas e os dicionários dizem que as exceções ficam por conta do famoso MARIO ("mediar", "ansiar", "remediar", "incendiar" e "odiar"). Nas flexões "eu", "tu", "ele" e "eles" dos dois presentes (do indicativo e do subjuntivo), esses verbos seguem o padrão dos terminados em "-ear": "medeio, medeias, medeia, mediamos, mediais, medeiam" ("anseio, anseias, anseia..."; "remedeio, remedeias..."; "incendeio..."; "odeio..."). Derivado de "mediar", o verbo "intermediar" vai atrás do "pai" (ou "mãe).
Um desses derivados é o bendito "intermediar", do qual se faz "intermedeio, intermedeias, intermedeia...". Mas, cá entre nós, como diz Jô Soares em relação ao gênero masculino de "grama" ("duzentos gramas de queijo"), essas formas de "intermediar" causam uma certa aflição, não acha? Posso estar enganado, mas parece que o caminho de "mediar" e "intermediar" é o da regularização. Sim, o de serem conjugados como os regulares, isto é, como a maior parte dos verbos terminados em "-iar". Bem, como não sou adepto de futurologias lingüísticas, digo que hoje, no português (brasileiro) padrão, os membros do "MARIO" são irregulares, ou seja, são flexionados de acordo com o processo que já expus.
A esta altura, alguém talvez esteja perguntando por que frisei bem "português (brasileiro) padrão".
Por duas razões. A primeira é que, em Portugal, a lista dos irregulares terminados em "-iar" é maior do que a nossa. Experimente procurar no "Dicionário Universal da Língua Portuguesa" (da Texto Editora -disponível para os assinantes do UOL) o verbo "premiar". Depois de clicar em "definir", clique em "conjugar". Sabe o que aparece no presente do indicativo? Curto e grosso: "premeio, premeias, premeia, premiamos, premiais, premeiam".
Necas de pitibiribas para o uso no português padrão brasileiro.
A segunda razão é que, no português oral do Brasil, verbos como "anunciar", "policiar", "angustiar", "denunciar" etc. costumam apresentar as flexões regulares ("anuncia/m", "policia/m", "angustia/m", "denuncia/m"), mas com verbos como "variar", "premiar" ou "negociar", registram-se oscilações entre "varia", "premia" e "negocia" (na norma urbana culta) e "vareia", "premeia" e "negoceia" (no registro "ruralizante ou popularizante", como diz o "Houaiss" em seu bom comentário sobre a flexão dos verbos terminados em "-iar").
Por fim, convém insistir em que, no padrão formal brasileiro, os verbos do grupo "MARIO" (e derivados) são irregulares. É isso.


inculta@uol.com.br

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