São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Fiscal é suspeito de receber propina de boate

Funcionário da Subprefeitura da Sé teria recebido R$ 500 para retardar processo de fiscalização de prostíbulo na Bela Vista

Gravações feitas pela PF mostram suposto acordo de pagamento de propina para fiscal; local vai ser fechado hoje pela prefeitura

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um fiscal da Subprefeitura da Sé teria recebido propina de R$ 500 para fazer retardar a fiscalização em uma casa de prostituição na rua Peixoto Gomide, na Bela Vista (centro de SP).
Isso é o que apontam os grampos telefônicos da Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, que investigou a suposta lavagem de dinheiro desviado do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) na WE, a casa de prostituição de luxo. O esquema envolveria também o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT).
Diálogos gravados pela PF com autorização judicial flagraram várias conversas de Wilson de Barros Consani Junior, coronel reformado da PM e suposto responsável pela segurança da WE, com um engenheiro, identificado apenas como Flavio, nas quais eles tratam do pagamento de propina para Missau, um fiscal da Subprefeitura da Sé. Ele foi identificado pela Folha como Missau Yamasaki, engenheiro de licenciamento com mais de 25 anos de trabalho na prefeitura.
A Folha tentou contato com Missau. Na subprefeitura, a informação foi que ele não tinha ido trabalhar ontem. Flavio e Consani não foram localizados.
O imóvel foi lacrado ontem pela prefeitura por irregularidades na construção e será emparedado hoje. A casa noturna já havia sido interditada por falta de segurança.

Pedidos de interferência
Nos grampos da Operação Santa Tereza também há gravações de conversas de responsáveis pela WE com assessores do presidente da Câmara, Antonio Carlos Rodrigues (PR), com pedidos de interferência para que a casa continuasse aberta.
Rodrigues confirma o contato com Consani, mas diz que, quando soube do que se tratava, proibiu seus assessores de tomar qualquer providência em favor da casa noturna WE.

Propina
A propina de R$ 500 teria sido paga por Flavio na própria subprefeitura. "Tá segurando [o processo], tá parado. Eu dei o dinheirinho do Missau para ele não encher o saco. Ele falou, pô, os caras estão pedindo minha cabeça", diz o engenheiro em telefonema a Consani no dia 19 de março, às 16h09.
Missau também é chamado de "Japonês" em outras conversas. A Polícia Federal monitorou os responsáveis pela WE entre janeiro e abril deste ano. As primeiras referências ao fiscal surgiram no dia 4 de março em uma conversa entre Celso de Jesus Murad, apontado como o responsável pelas finanças da casa, e Consani. A última citação do fiscal aconteceu em 19 de março, quando ele já teria recebido a propina.

Irregularidades
Até o dia 7 de março, não há referências sobre questionamentos da prefeitura acerca de irregularidades no imóvel ou no empreendimento. A primeira contestação ocorreu com a visita ao local feita pelo secretário da Habitação, Orlando de Almeida Filho, que disse ter recebido uma denúncia.
Após a visita feita pelo secretário, o alvará foi indeferido e o fiscal da subprefeitura foi supostamente corrompido para retardar o processo.
O subprefeito da Sé, Amauri Pastorello, disse que Missau atua internamente, na aprovação de licenças de funcionamento. Ele admite que, até a intervenção do secretário da Habitação, o processo de licenciamento da WE estava regular.
"O processo deles estava em ordem. A prefeitura não vai fazer fiscalização em todos os lugares. O que a gente sabe é que o Missau só foi fazer vistoria nesse lugar após a denúncia do secretário da Habitação."
O subprefeito afirmou que o fiscal será afastado de todo o processo referente à WE e ao imóvel na rua Peixoto Gomide. A Corregedoria Geral da prefeitura informou ter pedido informações à Polícia Federal sobre a suposta participação do funcionário no caso e que começará a investigar quando os dados forem entregues.


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