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NILSON CAMARGO DE AZEVEDO (1938-2009)
As orquídeas de Nilson tomaram São José
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
A casa ficou pequena para
as orquídeas, e elas foram do
quintal para a rua. Quando a
rua já não bastava, tomaram
o parque. O orquidófilo Nilson Camargo de Azevedo
predizia: "Daqui a uns dez
anos, São José será chamada
de cidade das orquídeas".
Se dependesse dele, seria.
Mineiro de Sapucaí-Mirim, o
filho de um agente dos Correios mudou-se para São José dos Campos (SP) com cerca de 13 anos, para estudar.
Fez curso técnico, e se meteu
a trabalhar com contabilidade no escritório de uma loja.
Mas Nilson era artista. E
autodidata. Durante uma
época, já casado, morou em
Ubatuba (SP), onde abriu
uma loja de cerâmica, que ele
mesmo pintava. Quando machucou a mão numa máquina, além de fazer fisioterapia,
arriscava-se no teclado, que
aprendeu a tocar sozinho.
Fez músicas, lembra Maria, sua mulher, agraciada
com uma das composições.
"Tocava de ouvido", lembra.
Com o padrinho, aprendeu
a gostar de orquídeas. Em
São José, se não estava em
sua marcenaria, nos fundos
de casa -chamada de muquifo-, era sempre visto trepado numa escada, amarrando as plantas nas árvores.
A ponte de safena ele se recusava a fazer. "Ninguém
abre meu peito", dizia. Morreu sexta, aos 71, de problemas cardíacos. Deixa filha.
A mulher diz ter arrumado
um substituto para cuidar
das flores que ele deixou espalhadas -a fim de São José,
quem sabe um dia, tornar-se
a cidade das orquídeas.
obituario@grupofolha.com.br
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