São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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NILSON CAMARGO DE AZEVEDO (1938-2009)

As orquídeas de Nilson tomaram São José

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

A casa ficou pequena para as orquídeas, e elas foram do quintal para a rua. Quando a rua já não bastava, tomaram o parque. O orquidófilo Nilson Camargo de Azevedo predizia: "Daqui a uns dez anos, São José será chamada de cidade das orquídeas".
Se dependesse dele, seria.
Mineiro de Sapucaí-Mirim, o filho de um agente dos Correios mudou-se para São José dos Campos (SP) com cerca de 13 anos, para estudar. Fez curso técnico, e se meteu a trabalhar com contabilidade no escritório de uma loja.
Mas Nilson era artista. E autodidata. Durante uma época, já casado, morou em Ubatuba (SP), onde abriu uma loja de cerâmica, que ele mesmo pintava. Quando machucou a mão numa máquina, além de fazer fisioterapia, arriscava-se no teclado, que aprendeu a tocar sozinho.
Fez músicas, lembra Maria, sua mulher, agraciada com uma das composições. "Tocava de ouvido", lembra.
Com o padrinho, aprendeu a gostar de orquídeas. Em São José, se não estava em sua marcenaria, nos fundos de casa -chamada de muquifo-, era sempre visto trepado numa escada, amarrando as plantas nas árvores.
A ponte de safena ele se recusava a fazer. "Ninguém abre meu peito", dizia. Morreu sexta, aos 71, de problemas cardíacos. Deixa filha.
A mulher diz ter arrumado um substituto para cuidar das flores que ele deixou espalhadas -a fim de São José, quem sabe um dia, tornar-se a cidade das orquídeas.

obituario@grupofolha.com.br


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