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EUA apostam em escolas privadas para salvar educação pública
Aumenta no país financiamento público de colégios particulares que atendem alunos de graça
As "charters schools" cresceram 289% em
10 anos; modelo causa polêmica, pois eficácia não foi comprovada
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O auditório do Brooklyn
College, em Nova York, com
capacidade para 2.000 pessoas, estava lotado no fim de
tarde de uma terça-feira de
abril. Não havia apresentação de artista.
O que atraía tanta gente ali
era o sorteio de vagas gratuitas em uma rede de escolas
privadas mantida com dinheiro público.
O casal Eric e Rachael Thomas era mais um a esperar
ansiosamente pelo anúncio
dos contemplados.
Ao ouvirem o nome do pequeno Elijah, os dois comemoraram como quem celebra
um gol, uma cesta ou um
ponto do time de coração. Ao
lado, uma mãe chorava, desolada, por sua filha não ter
sido chamada.
"Tínhamos certeza que
conseguiríamos. Eles [a rede
de escolas Achievement
First] foram a melhor coisa
que aconteceu no Brooklyn
nos últimos tempos", disse
Rachael.
As reações dos pais naquele auditório ajudam a entender por que uma parcela crescente da opinião pública norte-americana pressiona seus
governos a aumentarem o financiamento público a escolas privadas.
Esses estabelecimentos,
conhecidos como "charters
schools", representam apenas 4% do total de escolas
americanas, mas, nos últimos dez anos, cresceram
289%, saindo de 1.297 em
2000 para 5.043 neste ano.
LIBERDADE
As "charters schools" têm
liberdade para organizar o
currículo, estabelecer horários, aumentar ou encurtar o
calendário letivo e contratar
professores não sindicalizados, o que gera forte reação
dos sindicatos.
Em troca do financiamento público, atendem apenas
alunos de graça, selecionados por sorteio, e precisam
cumprir metas de qualidade.
A aposta no modelos das
"charters", no entanto, é polêmica nos EUA.
Se há quem acredite que
elas são uma solução para o
criticado sistema público de
ensino, outros são céticos em
relação aos seus resultados e
reclamam que trata-se de
uma maneira de drenar recursos públicos para mãos
privadas.
As pesquisas de abrangência nacional sobre o tema são
inconclusivas. Após consideradas todas as variáveis externas às escolas que influenciam no aprendizado dos
alunos, não houve estudo
que identificasse até o momento significativa diferença
em favor das "charters".
MAU USO
Além disso, começam a
aparecer casos de mau uso
dos recursos públicos ou baixo desempenho. Na cidade
de Nova York, por exemplo,
quatro delas (de um total de
99 atualmente) já foram fechadas por maus resultados.
Uma reportagem do "New
York Times" em maio trouxe
também relatos de estabelecimentos processados por
pagarem viagens turísticas a
seus membros, ou salários
milionários aos diretores.
Mesmo assim, a expansão
das "charters schools" continua a ser apoiada por governos em diferentes níveis.
A estratégia fez parte da
política educacional de George W. Bush, e continuou com
Barack Obama.
"Mesmo sem evidência de
que as "charters" são melhores, há uma pressão forte dos
pais por mais poder de escolha. Os ricos escolhem as
escolas dos seus filhos.
Os pobres querem o mesmo",
afirma Henry Levin, pesquisador da Faculdade de Professores da Universidade
Columbia.
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