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EDUCAÇÃO
Entre 1994 e 1998, rede privada cresceu 36,1%; no mesmo período, matrículas nas federais cresceram apenas 12,4%
Particulares dominam ensino superior
da Reportagem Local
da Sucursal de Brasília
Se forem mantidas as atuais taxas
de crescimento, a privatização do
ensino superior brasileiro deverá
se intensificar nos próximos anos.
Essa é uma das conclusões a que se
chega quando se analisa o Censo
do Ensino Superior, divulgado ontem pelo ministro da Educação,
Paulo Renato Souza.
O aumento da participação da
rede privada decorre da diferença
de ritmo de crescimento das matrículas. Entre 1994 e 1998, a rede particular cresceu 36,1%, atingindo a
marca de 1,3 milhão de alunos. No
mesmo período, a maior expansão
na rede pública ocorreu nas universidades estaduais, que cresceram 18,5%. Nas federais -maior
rede de universidades públicas no
país- foi de apenas 12,4%.
O caso da Unip (Universidade
Paulista), de São Paulo, ilustra o
que está ocorrendo: de 1995 para
1998, o número de matrículas na
instituição saltou de 28.490 para
44.598. Esse crescimento transformou a instituição na maior universidade do país, superando a USP
(Universidade de São Paulo) -se
forem consideradas apenas as matrículas na graduação. Novamente,
é o ritmo de crescimento que explica o que ocorreu: enquanto a Unip
ampliou em 16.108 o número de
alunos matriculados, a USP teve
um aumento de 2.270 inscrições.
"O crescimento das particulares
reflete o aumento da concorrência", diz João Carlos Di Genio, diretor da Unip.
"A rede particular está respondendo mais rápido à pressão da
demanda, por isso tende a ocupar
um espaço cada vez maior", diz
Éfrem Maranhão, presidente do
Conselho Nacional de Educação.
A distribuição das vagas no vestibular da USP e da Unip pode ser
tomadas como exemplo do que está ocorrendo: entre 95 e 98, a oferta
na USP caiu de 7.173 para 7.050. Na
Unip, saltou de 12.720 para 38.291.
Rede pública
A saída para reverter a tendência
de concentração das vagas na rede
particular é ampliar as vagas na rede pública, especialmente nas federais. Para tanto, é necessário
duas coisas: otimizar a estrutura
existente e ampliar as vagas.
O censo mostra que nas federais
existem nove alunos por professor.
Nas particulares, a proporção é
quase o dobro: são 16,2 alunos para
cada professor. "Essa relação pode
ser melhorada. Apesar das aposentadorias de docentes nos últimos
anos, existe uma estrutura ociosa
na rede pública que poderia ser
usada para expandir a oferta", diz
Eunice Durham, membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa
sobre Ensino Superior da USP.
Os representantes das federais se
contrapõem à idéia de ociosidade e
alegam que já estão promovendo a
expansão, ainda que moderada,
em consequência da escassez de
recursos. A Andifes (Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) apresentou ao MEC um plano
de expansão de 50% das vagas em
cinco anos que, para ser concretizado, depende de um aumento de
R$ 50 milhões ao ano da verba de
custeio. "A relação professor/aluno adotada pelo MEC não leva em
conta que, nas públicas, os professores também dão aula na pós-graduação, fazem pesquisa e têm dedicação integral, o que não ocorre
nas particulares", Rodolfo Pinto
da Luz, presidente da entidade.
Outro fator que indicaria a ociosidade é o baixo número de alunos
nos cursos noturnos, principalmente nas federais -20% do total
de matrículas nestas instituições
contra 66,4% nas particulares.
Pressão
Expandir o número de vagas no
ensino superior nos próximos
anos é fundamental por causa da
tendência de aumento da demanda. Se for mantida a atual taxa de
crescimento -7% ao ano, registrada entre 1994 e 1998- o Brasil
deverá ter 3 milhões de alunos no
ensino superior (hoje são cerca de
2,1 milhões). Para atender essa demanda, a rede particular terá de
criar 542 mil vagas, e a pública, 333
mil. Essa distribuição segue a atual
distribuição: cerca de 60% das vagas estão na rede particular e as
restantes na pública. Essa também
é a distribuição prevista no Plano
Nacional de Educação para que o
sistema se mantenha equilibrado.
"A dificuldade é que o poder público não dispõe de recursos adicionais para colocar na rede de modo
a garantir a expansão no ritmo necessário", diz Simon Schwartzman, professor da FGV e assessor
da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.
Distorção
Apesar do crescimento, existe
ociosidade de vagas no sistema,
principalmente na rede particular.
Isso mostra que a expansão não
ocorreu de acordo com as necessidades do mercado nem dos estudantes. Segundo o censo, sobraram 124.678 vagas nos 6.950 cursos
de graduação oferecidos pelas 973
instituições de ensino superior do
país. As particulares são responsáveis pela maioria absoluta das vagas que sobraram -115.318. Nas
federais, sobraram 1.628. Nas públicas estaduais, 2.782. Nas públicas municipais, 4.950.
Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pelo censo, a
sobra se deve a quatro fatores:
muitos alunos não têm condições
de pagar as mensalidades, muitos
precisam estudar à noite, a qualidade dos cursos deixa a desejar e
são oferecidas muitas vagas para
cursos com pouca demanda.
A sobra de vagas é maior nos cursos de licenciatura. Deixaram de
ser preenchidas 39.863 vagas em 13
desses cursos.
(MARTA AVANCINI E WILSON SILVEIRA)
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