São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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Obesidade é "contagiosa" entre amigos

Estudo norte-americano indica que influência de pessoas próximas pode triplicar risco de uma pessoa tornar-se obesa

Cientistas mapearam rede social e mediram peso de 12 mil indivíduos num período de 32 anos; pesquisadora vê risco de surgir preconceito

GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"

O obesidade pode se espalhar entre as pessoas de modo semelhante a uma epidemia, indica o resultado de uma pesquisa publicada ontem.
Quando alguém ganha peso, seus amigos próximos tendem a engordar também, conclui o estudo, que foi publicado na revista "New England Journal of Medicine".
O resultado da pesquisa foi obtido a partir de uma análise detalhada sobre uma rede social de mais de 12 mil pessoas, num período de 32 anos (entre os anos de 1971 e 2003). Os pesquisadores sabiam quem era amigo de quem e se um indivíduo era irmão, cônjuge ou vizinho de outro. Os pesos das pessoas analisadas foram medidos em vários momentos.
Segundo os cientistas, os dados obtidos os permitiram ver o que aconteceu nos anos em que amigos, parentes ou vizinhos de alguns indivíduos ficaram obesos. De acordo com os cientistas, as pessoas ficavam mais propensas à obesidade quando um amigo delas engordava. Pela pesquisa, isso aumentava o risco de uma pessoa se tornar obesa em 57%.
Nenhum efeito foi observado, porém, quando um vizinho ganhava ou perdia peso. Já familiares tinham influência, embora isso acontecesse em freqüência menor do que a dos amigos. E até mesmo a proximidade física não era muito relevante: a influência de um amigo no acréscimo de peso era exercida mesmo a milhares de quilômetros de distância.
O maior efeito era entre aqueles que se consideravam amigos próximos. Nesse caso, se um ficava obeso, o risco de o outro adquirir a mesma condição quase triplicava.
O mesmo efeito foi observado quando uma pessoa emagrecia, mas como a maior parte dos casos observados foi de ganho de peso, ao longo do estudo o que se observou foi uma epidemia de obesidade. A genética também tinha influência.
Nicholas Christakis, cientista da Escola Médica de Harvard, de Cambridge (EUA), que liderou o estudo, sugere uma explicação. Segundo ele, as pessoas afetam a percepção de seus amigos sobre o peso: quando um bom amigo fica obeso, a obesidade deixa de parecer tão ruim. "Você muda sua idéia sobre qual tipo de corpo é aceitável ao avaliar as pessoas ao seu redor", disse Christakis.
Essa hipótese não agradou a pesquisadores como Kelly Brownell, da Universidade Yale. "Existe aí um grande risco de culpar ainda mais os obesos por coisas que são causadas por um ambiente terrível", afirma.

Não explica tudo
A professora do departamento de psiquiatria da Unicamp Maria Marta de Magalhães Battistoni pondera que a obesidade tem diversas causas. Segundo ela, a hipótese do contágio pode ter relevância, "mas não explica tudo". Para o professor de endocrinologia da universidade, Marcos Tambascia, a pesquisa abre uma nova frente de estudo sobre a obesidade. "Mostra que há uma perda de referência em relação ao corpo. Isso é bastante lógico", afirma.


Com a Reportagem Local


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