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Dois terços das praias do Rio têm areia imprópria
A avaliação mais recente da prefeitura em 35 trechos de 25 praias, indica que 26 deles têm areia não recomendada
No caso de excesso de coliformes fecais na areia, frequentadores de praias deveriam evitar entrar em contato direto com a areia
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Espigas de milho, palitos
com restos de espetinhos, latas
vazias de cerveja, embalagens
de biscoito e de sorvete, cigarros, fezes de cães. Quando os
banhistas se vão, ao fim da tarde, é esse monte de lixo que
compõe o cenário da praia de
Ipanema, uma das mais famosas do Rio.
"Aqui só tem gente rica, mas
muitos não têm nenhuma educação. Quando vão à praia, largam o lixo de qualquer jeito",
diz Maria Aparecida da Silva,
46, que vende cangas em frente
à rua Maria Quitéria. Mas a sujeira não é exclusividade dali.
A avaliação completa mais
recente da prefeitura, que a cada 15 dias analisa a areia em 35
trechos de 25 praias, indica que
26 deles (74%) têm areia não
recomendada. Isso significa
que o banhista deveria evitar
contato com ela, sob risco de
contrair doenças. Os números
são de 24 de junho a 8 de julho.
Dados preliminares da avaliação seguinte (de 9 a 23 de julho) indicam que o número de
praias não recomendadas caiu
para 16 (45%).
A areia é considerada não recomendada quando concentra
mais de 400 coliformes fecais
em 100 gramas. A avaliação, feita desde o final de 2005, também identifica parasitas, como
ascaris e ancylostoma, mas não
indica a quantidade deles.
"Esse índice varia muito e depende de fatores como chuva,
presença de cães e número de
frequentadores", diz Vera Oliveira, gerente de monitoramento ambiental da Secretaria
de Meio Ambiente do Rio.
"Essa classificação é um alerta para que os frequentadores
evitem o contato direto com a
areia quando ela não está adequada. Também não se deve comer um biscoito que tenha caído na areia, por exemplo. Mas
não significa que alguém que
não tome esse cuidado necessariamente vai contrair uma
doença", diz ela.
Segundo médicos, as doenças
mais comuns são bicho geográfico, impetigo e ascaridíase,
causada pela lombriga.
Para alertar os usuários, a
Prefeitura do Rio, em parceria
com o governo estadual, diz que
vai instalar nesses 35 trechos
de praias painéis indicando a
qualidade da areia. As placas
também indicarão a qualidade
da água, medida desde 1995,
atualmente só pelo Estado.
Mas as placas ainda não estão
prontas nem há previsão para
que sejam instaladas. "Com
certeza será antes do próximo
verão", diz Oliveira.
Por enquanto, a maioria de
quem vai à praia não se preocupa com a areia. É o caso da ambulante Luísa Souza, 29. Enquanto vende lanches em Copacabana, ela não deixa a filha
Bruna, 6, entrar no mar.
"A água é muito suja", justifica. Na areia, porém, nunca tomou precauções. A menina se
diverte construindo castelos,
cavando poças e se enterrando
na areia. "A gente vê que tem lixo na areia, mas nunca me
preocupei, não. E, por sorte,
nunca tive problema", diz.
As praias mais extensas têm
mais de um trecho monitorado.
É o caso da Barra da Tijuca, em
que a areia é analisada em cinco
pontos e os resultados costumam ser bem diferentes. O
Quebra-Mar é o 14º mais sujo.
Já Alvorada e Reserva, trechos
menos frequentados, são os
dois mais limpos dentre todos.
As condições da areia em alguns trechos estão constantemente impróprios. Dois deles
-Ipanema, na direção da rua
Maria Quitéria, e Imbuca, na
ilha de Paquetá- têm areia inadequada nas últimas 14 medições (desde 24 de dezembro
passado).
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